Em um país onde a qualificação profissional é vista como um diferencial, muitos se deparam com uma realidade cruel: um currículo bem estruturado, com graduação, pós-graduações e vasta experiência, pode ser considerado "bom demais" para uma vaga. Essa contradição na empregabilidade brasileira está gerando um ciclo vicioso que prejudica tanto os profissionais mais experientes quanto os jovens que buscam seu primeiro emprego.
Em uma entrevista exclusiva, um profissional altamente qualificado, com uma carreira sólida e um vasto histórico acadêmico, compartilhou sua frustração. Após ser descartado em uma entrevista para uma posição que julgava ser adequada ao seu perfil, foi informado que seu currículo era "bom demais para a vaga". Esta frase, tão comum em ambientes corporativos, revela a realidade dura de um mercado que, ao mesmo tempo em que exige qualificação, parece ter medo de contratar profissionais que possuem a experiência necessária para entregar resultados.
"Eu entendo que as empresas busquem profissionais motivados, com vontade de aprender, mas me parece que existe um medo velado de contratar alguém que tenha uma bagagem muito grande. A impressão é de que eles temem que, ao me contratar, eu queira uma posição mais alta ou que eu tenha expectativas salariais que não podem atender", relatou o profissional, que preferiu não se identificar.
Esse é um exemplo claro de como o mercado de trabalho brasileiro está em um impasse: por um lado, empresas buscam a tão almejada experiência, mas, por outro, há receio de que um profissional qualificado traga consigo demandas que as empresas não estão dispostas a atender. O medo da “overqualificação” tornou-se um obstáculo significativo para muitos.
Enquanto isso, os jovens recém-formados, ansiosos por começar suas carreiras, enfrentam um desafio igualmente frustrante. "É muito difícil começar em uma área em que você não tem experiência, mas sem a oportunidade de trabalhar, como você vai adquiri-la?", questiona Clara, uma estudante de administração que está à procura do primeiro emprego. Esse dilema é recorrente para quem está em busca de um primeiro trabalho: as empresas exigem experiência, mas não oferecem as condições para que os novos profissionais a adquiram.
As vagas de entrada, quando existem, muitas vezes são mal remuneradas e oferecem poucas chances de crescimento. O cenário se complica ainda mais quando essas oportunidades são preenchidas por profissionais com mais experiência que optam por posições de "sobrevivência", sem perspectivas claras de progressão na carreira.
Esse paradoxo da empregabilidade, onde profissionais qualificados são descartados e jovens sem experiência enfrentam portas fechadas, gera um ciclo vicioso que agrava a situação do mercado de trabalho. As empresas ficam presas em uma lógica de medo: medo de pagar mais por um profissional experiente ou medo de investir na capacitação de novos talentos. E, no final das contas, todos saem perdendo.
O mercado de trabalho brasileiro parece viver em um constante dilema de expectativas: empresas buscam, ao mesmo tempo, profissionais altamente qualificados e dispostos a aceitar salários baixos e jovens dispostos a se arriscar em cargos de baixo nível para começar suas carreiras. Porém, essa "falha de mercado" vai muito além de uma questão de demanda e oferta de mão-de-obra; trata-se de uma cultura que não valoriza as diversas fases do desenvolvimento profissional e, principalmente, uma falta de visão de longo prazo.
O Futuro da Empregabilidade no Brasil
O grande desafio para o Brasil, neste cenário, é criar uma dinâmica de mercado que reconheça a importância de contratar tanto jovens talentos quanto profissionais experientes. As empresas precisam repensar suas estratégias de recrutamento, oferecendo oportunidades para quem está começando, ao mesmo tempo em que valorizam a experiência e o conhecimento acumulado por profissionais mais experientes, sem medo de uma "exigência excessiva".
É hora de quebrar o ciclo vicioso da empregabilidade e entender que a diversidade de experiências é uma vantagem, não um obstáculo. A mudança começa nas empresas, que precisam ser mais flexíveis e abertas a diferentes perfis de candidatos, e, mais importante, precisam entender que o investimento em capital humano é sempre um retorno positivo no longo prazo.