Sábado, 15 de Março de 2025
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Por que os políticos não querem acabar com a violência?

A Violência como Negócio: O Lucro por Trás da Inércia Política

10/03/2025 às 19h04
Por: Rede Geração
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Foto: Istook
Foto: Istook

Em um cenário onde a violência continua a assolar grandes cidades brasileiras e a insegurança pública se torna uma constante nas vidas dos cidadãos, surge uma reflexão cada vez mais provocadora: por que, afinal, os políticos não tomam medidas mais eficazes para combater a violência? A resposta, longe de ser simples, pode estar relacionada a um fator mais sinistro, sugerido pelo sociólogo Zygmunt Bauman: a violência dá lucro. E, mais do que isso, ela gera empregos e serve como uma engrenagem dentro de um sistema que, muitas vezes, se beneficia do caos e da insegurança.

O Lucro da Violência: Uma Indústria em Expansão

Bauman, em suas análises sobre a sociedade contemporânea, apontou que a violência não é apenas uma tragédia social, mas uma indústria que gera grandes lucros. Essa violência pode ser vista em múltiplas formas, desde a criminalidade nas ruas até o sistema de segurança pública, passando pelos contratos milionários de empresas privadas envolvidas na construção de presídios, no fornecimento de armamento e no treinamento de forças policiais.

Em muitos casos, combater a violência de maneira eficaz não é do interesse de algumas elites políticas e econômicas. A existência de um sistema que se alimenta da insegurança oferece múltiplos benefícios a esses setores. O mercado de segurança privada, por exemplo, não para de crescer, com empresas oferecendo serviços de vigilância, escoltas armadas e sistemas de monitoramento em um país onde a violência urbana não dá sinais de diminuir.

Além disso, a violência cria uma demanda constante por recursos na área de segurança pública, o que resulta em um ciclo vicioso: governos estaduais e municipais destinam grandes quantias ao orçamento da segurança, alimentando um sistema de "emergência" contínua. A cada aumento nos índices de criminalidade, aumenta-se também o investimento em equipamentos de segurança, policiamento ostensivo, e até em empresas de "consultoria" na área de segurança pública. A sensação de insegurança nunca é resolvida completamente, e, com isso, a demanda por mais recursos e estratégias de combate à violência nunca cessam.

A Violência Cria Empregos... Para Alguns...

A relação entre violência e geração de empregos é outra questão que torna este ciclo ainda mais perverso. Quando a violência aumenta, cria-se uma grande necessidade de profissionais e serviços especializados, muitos dos quais estão atrelados a grandes interesses privados.

Com o aumento do número de homicídios, assaltos, sequestros e outros crimes, as forças de segurança pública (militares, policiais civis e federais) necessitam de mais efetivo e treinamento. Paralelamente, a indústria do encarceramento também se expande, com a construção de novos presídios, aumento de pessoal no sistema penitenciário e o aumento do número de agentes de segurança.

Não podemos esquecer dos custos de manutenção e abastecimento de segurança privada, como empresas de vigilância, segurança eletrônica e monitoramento. Essas empresas, que contratam milhares de trabalhadores, prosperam em um cenário de medo e insegurança, onde a promessa de proteção pessoal se torna uma mercadoria lucrativa.

A crescente militarização da sociedade também contribui para esse fenômeno. No Brasil, vimos uma onda de "milicianização" das políticas de segurança, com agentes de segurança pública e até mesmo grupos paramilitares se beneficiando diretamente da sensação de insegurança. Muitas vezes, esses grupos operam em regiões marginalizadas, oferecendo serviços de proteção e cobrando por "segurança", gerando assim um círculo vicioso onde a violência alimenta o emprego e a geração de lucros, ao mesmo tempo que marginaliza a população mais pobre.

O Jogo Sujo da Política: Quem Se Beneficia da Inércia?

É no meio deste cenário sombrio que a política brasileira se insere, e muitas vezes, a resposta para o aumento da violência não vem das autoridades que deveriam proteger a população, mas sim de um sistema que é beneficiado pela manutenção desse caos.

Para muitos políticos, manter a violência em níveis elevados pode ser uma estratégia para garantir votos. Quando a população teme por sua segurança, os políticos se apresentam como salvadores, oferecendo soluções fáceis, como o aumento do policiamento e mais investimentos em "segurança". Essas soluções, no entanto, raramente atacam as causas profundas da violência, como a desigualdade social, o desemprego, a educação precária e a falta de oportunidades para as populações mais vulneráveis.

Os discursos eleitorais de "dura repressão" ou "combate implacável ao crime" acabam sendo populares, mas são superficiais. Eles não buscam resolver a violência de forma sistêmica, apenas camuflam os problemas enquanto, por trás dessa fachada, uma verdadeira indústria da violência segue lucrando.

Além disso, muitos políticos e figuras públicas se envolvem em escândalos de corrupção ligados ao setor de segurança, desviando verbas públicas destinadas ao combate à violência para interesses próprios, mantendo o ciclo de falhas no sistema de segurança e agravando a situação. Esse círculo vicioso entre violência, corrupção e política muitas vezes impede que soluções reais sejam encontradas.

A Falácia da "Segurança Pública" e a Necessidade de Reforma

É preciso questionar: a quem interessa realmente acabar com a violência? Para muitos, a verdadeira questão é que a violência se tornou um "negócio", e, como qualquer outro, manter o status quo traz vantagens materiais e políticas.

A solução para essa realidade não está em mais repressão ou em soluções superficiais. A verdadeira resposta passa pela educação, pela distribuição de renda, pela justiça social e pela criação de oportunidades para todos, principalmente para as populações marginalizadas. Somente uma reforma profunda nas políticas públicas pode começar a reverter o ciclo vicioso que hoje alimenta a violência e os interesses que lucram com ela.

A política brasileira, ao invés de buscar tratar a violência como um problema estruturante da sociedade, acaba alimentando um sistema que, para alguns, é benéfico. O que está em jogo aqui não é apenas a segurança das pessoas, mas a perpetuação de um sistema que, ao manter a população em constante medo, encontra espaço para ganhar dinheiro e votos à custa da dor alheia. O verdadeiro desafio, portanto, é romper com esse ciclo e investir em políticas públicas que realmente enfrentem as causas da violência, não em soluções temporárias que só alimentam o problema.

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