Políticos e líderes estão, frequentemente, em uma bolha de privilégios, protegidos de uma série de desafios cotidianos que a grande maioria dos cidadãos enfrenta. Esse distanciamento leva a uma desconexão entre as políticas públicas implementadas e as necessidades reais da população. Uma solução simples, mas extremamente eficaz, seria a implementação de um "treinamento de imersão" para políticos, similar ao que as grandes franquias aplicam aos seus franqueados e funcionários.
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Assim como as redes de franquias exigem que seus franqueados passem por treinamentos imersivos para entender o funcionamento real das lojas — onde se tornam, de fato, parte da operação, passando pelo processo como seus funcionários —, por que políticos não deveriam fazer o mesmo? Ir trabalhar de ônibus, usar o SUS, frequentar escolas públicas ou até mesmo passar pelo processo de busca por moradia em locais de baixo poder aquisitivo, tudo isso poderia proporcionar uma visão mais clara sobre os problemas cotidianos enfrentados pela população. A ideia não é um simples exercício de "empatia", mas sim uma verdadeira necessidade de entendimento do que é a vida de quem não possui os mesmos privilégios.
Uma das maiores críticas à classe política brasileira é a desconexão entre a vida que os políticos levam e a realidade das pessoas que eles representam. Para muitos, a política é vista como uma carreira que garante uma série de privilégios, incluindo salários altos, planos de saúde privados, acesso à educação de qualidade, segurança privada e transporte confortável. Essa bolha de privilégios pode gerar uma perspectiva distorcida sobre as reais necessidades da população, que enfrenta uma realidade de transporte precário, atendimento médico deficitário, e escolas públicas com infraestrutura deficiente.
Imaginemos um político que, por um período, use o transporte público todos os dias, com as dificuldades comuns: superlotação, atrasos e a insegurança constante. Ou ainda, que recorra ao SUS para tratar de questões de saúde e enfrente as longas filas e a escassez de recursos. Que tal um político matriculando seus filhos em uma escola pública e lidando com os problemas estruturais e a falta de recursos que muitos pais e alunos enfrentam?
Essas experiências poderiam fornecer um entendimento mais real e profundo das dificuldades diárias do cidadão brasileiro, e talvez até inspirar políticas públicas mais eficazes e bem direcionadas. No entanto, atualmente, muitos políticos evitam até mesmo o contato com esses aspectos da realidade social do país, o que prejudica a criação de soluções realmente eficazes.
Assim como as franquias, que entendem que o sucesso de um negócio depende de uma compreensão profunda de suas operações, os políticos também deveriam ser obrigados a entender a fundo as dificuldades que enfrentam os brasileiros de diferentes classes sociais. Um treinamento de imersão para políticos poderia ser um passo importante para garantir que eles, ao tomar decisões sobre saúde, educação, transporte e segurança, tenham uma compreensão verdadeira do impacto de suas escolhas na vida das pessoas.
O treinamento poderia ser dividido em áreas-chave:
Transporte público: Políticos poderiam ser obrigados a usar o transporte público como principal meio de locomoção durante um período significativo de tempo. Isso ajudaria a entender melhor as condições precárias e a insegurança que muitos enfrentam diariamente.
Educação pública: Para entender as deficiências do sistema educacional, os políticos poderiam frequentar escolas públicas, interagir com alunos, pais e professores, para vivenciar a falta de recursos, a sobrecarga de trabalho e a falta de infraestrutura que comprometem o ensino.
Saúde pública: A experiência do SUS é uma realidade distante da maioria dos políticos. Enfrentar as filas de espera, a escassez de medicamentos e a falta de leitos de hospital poderia gerar um entendimento profundo das dificuldades que milhões de brasileiros enfrentam ao tentar acessar os serviços públicos de saúde.
Moradia e segurança: Os políticos poderiam ser incentivados a passar um tempo em bairros populares, onde a insegurança e as condições de moradia precárias são uma realidade constante. Isso poderia gerar uma compreensão mais empática e assertiva sobre as reais necessidades da população em termos de segurança e infraestrutura urbana.
Implementar esse tipo de "treinamento de imersão" também traria benefícios à própria democracia. Os políticos, ao vivenciarem as dificuldades cotidianas da população, poderiam tomar decisões mais informadas, mais humanas e mais justas. Além disso, isso reduziria a sensação de alienação que muitos brasileiros sentem em relação ao sistema político. Um político que entende o impacto de suas decisões e que se envolve diretamente com as questões de sua população pode contribuir para uma política pública mais efetiva e de melhor qualidade.
Além disso, a transparência e a proximidade com as dificuldades da população poderiam criar uma nova dinâmica entre políticos e cidadãos, mais colaborativa e menos distante. Ao invés de prometer soluções "de gabinete", os políticos poderiam se comprometer com soluções reais, que atendam às necessidades urgentes das pessoas.
Embora a ideia de um "treinamento de imersão" para políticos pareça radical para muitos, ela reflete uma realidade simples: os políticos devem ser capazes de entender o que está realmente acontecendo na vida das pessoas que eles representam. Da mesma forma que os franqueados, ao se envolverem diretamente no funcionamento de suas franquias, ganham um entendimento mais profundo e eficiente sobre como suas operações devem ser conduzidas, os políticos também ganhariam muito mais ao vivenciar as dificuldades diárias de seus eleitores.
Políticos que não se dispõem a compreender as realidades cotidianas da população dificilmente serão capazes de formular políticas que atendam efetivamente às suas necessidades. O país precisa de líderes que compreendam de verdade os desafios e dificuldades enfrentados pelos cidadãos, e para isso, é essencial que eles se imerjam na realidade social do Brasil.
Talvez, se isso fosse implementado, estaríamos mais próximos de construir uma política mais justa, eficaz e, principalmente, mais humana.