Por pouco, o que foi uma das maiores celebrações musicais da década no Brasil não se transformou em uma tragédia. Na noite do último sábado (03), a cantora Lady Gaga subiu ao palco em Copacabana diante de uma multidão de mais de 2 milhões de pessoas. O espetáculo gratuito, marcado por mensagens de inclusão e diversidade, entrou para a história pela grandiosidade. Mas bastidores revelam que uma ameaça silenciosa quase transformou a festa em luto nacional.
Uma operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro, chamada Fake Monster, foi desencadeada dias antes do show e evitou um ataque de caráter terrorista. O alvo? O público jovem e LGBTQIA+ que tradicionalmente acompanha a cantora. As investigações revelaram um plano articulado por um grupo extremista nas redes sociais, que previa o uso de coquetéis molotov e explosivos improvisados para atingir a plateia.
O nome da operação faz referência aos “little monsters”, como são conhecidos os fãs da artista. Segundo as autoridades, o grupo disseminava discursos de ódio e violência, em especial contra crianças, adolescentes e minorias sexuais. A motivação ideológica por trás do ataque seria uma espécie de “protesto” contra o que os criminosos chamavam de “agenda progressista”.
A investigação aponta para uma preocupante tendência global: a radicalização de jovens em ambientes virtuais. O grupo identificado pela polícia utilizava redes sociais para difundir discursos violentos, conteúdos de abuso sexual infantil e até mesmo incitação ao suicídio. Adolescentes eram alvos preferenciais de manipulação, mostrando como o ambiente digital se tornou um terreno fértil para o recrutamento de extremistas.
“Esses grupos têm metas para ganhar notoriedade e angariar seguidores, principalmente entre crianças e adolescentes”, alertou o delegado Luiz Lima, da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática.
Em um dos casos mais assustadores, um investigado em Macaé, Norte Fluminense, planejava realizar um assassinato durante o show como parte de um ritual supostamente satanista. Embora não tenha sido preso, ele será investigado por terrorismo e incitação ao crime.
A operação da Polícia Civil foi conduzida com discrição para evitar pânico entre o público. Dois suspeitos foram detidos: um homem no Rio Grande do Sul, por porte ilegal de arma (posteriormente solto mediante fiança), e um adolescente no Rio de Janeiro, apreendido com materiais ilícitos. Outros sete alvos foram identificados em diferentes estados, incluindo São Paulo e Mato Grosso.
De acordo com o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, a legislação antiterrorismo foi fundamental para a ação preventiva. “Você não precisa esperar ele jogar o coquetel molotov. A demonstração de intenção e articulação já constitui crime”, afirmou.
Esse caso acende um alerta urgente sobre a forma como o terrorismo tem se moldado no século XXI. Longe de grandes organizações internacionais, a ameaça agora pode nascer em quartos escuros, em comunidades online, entre adolescentes e adultos que se conectam por ódio e intolerância.
A internet, embora seja espaço de liberdade, tornou-se também uma ferramenta de radicalização e planejamento criminoso. As autoridades enfrentam o desafio constante de equilibrar o direito à privacidade com a necessidade de monitoramento em nome da segurança pública — uma discussão ainda delicada no Brasil.
Também chama atenção a motivação dos ataques: o ódio contra a diversidade. Em pleno 2025, atos de violência contra minorias continuam sendo planejados e potencializados por discursos extremistas, muitas vezes mascarados como “opiniões” em redes sociais.
Felizmente, a operação evitou o pior e o show seguiu como planejado. Lady Gaga emocionou os fãs com mensagens de empatia, amor e resistência. “Obrigado por esperarem tanto tempo. Essa noite é de vocês”, disse a artista durante a apresentação. A multidão respondeu com euforia, fazendo da noite um marco na história da música ao vivo no Brasil.
Com público superior ao do show de Madonna em 2024, o evento reafirmou o poder da arte como ferramenta de inclusão e protesto pacífico — mesmo sob ameaça.
O caso expõe a fragilidade da segurança pública diante de novas formas de terrorismo e mostra que, embora a tecnologia permita ações preventivas, ela também é usada para fomentar o ódio. Fica a lição: o combate ao extremismo começa com educação digital, investimento em ciberinteligência e, principalmente, com o enfrentamento direto da intolerância.
Enquanto o show foi um sucesso, o verdadeiro espetáculo aconteceu nos bastidores: a vitória silenciosa da vida sobre a violência.