Oito pessoas são investigadas por envolvimento no plano, que teria como epicentro a plataforma Discord, frequentemente usada por grupos que promovem discurso de ódio e conteúdos ilícitos. Entre os detidos estão um adolescente apreendido no Rio de Janeiro e um homem de 44 anos preso em flagrante no Rio Grande do Sul, portando ilegalmente três armas. De acordo com a Polícia Civil, ambos eram os principais articuladores do atentado e utilizavam redes sociais para propor “desafios” com conotações extremistas.
A operação teve alvos em diversos municípios espalhados por quatro estados brasileiros, o que revela a dimensão nacional do grupo. A abrangência geográfica e a coordenação digital dos envolvidos mostram como o extremismo contemporâneo opera em redes descentralizadas, mas altamente eficazes em disseminar ódio.
Segundo o secretário da Polícia Civil, Felipe Curi, a motivação central era o preconceito contra pessoas LGBTQIA+. O plano, se concretizado, teria como alvo um evento com mais de 2 milhões de pessoas — um potencial massacre. O ataque, de cunho terrorista, visava não apenas causar mortes, mas também chamar atenção midiática e promover a ideologia de ódio dos criminosos.
A polícia afirma ter evitado “centenas de mortes”, e embora essa estimativa não possa ser verificada de forma independente, a gravidade do plano não pode ser subestimada.
Além da ameaça central, outro caso chocante ocorreu em Macaé (RJ), onde um homem foi preso após anunciar nas redes sociais que mataria uma criança ao vivo durante o show, alegando tratar-se de um “ritual satanista” em retaliação à suposta ligação de Lady Gaga com o satanismo. Esse tipo de delírio conspiratório é alimentado por bolhas digitais que incentivam ações violentas como forma de “missão” pessoal.
A polícia ressaltou que esse indivíduo não tinha conexão com o grupo investigado na operação principal, mas sua prisão reforça o ambiente tóxico fomentado por discursos extremistas online.
Um ponto particularmente grave é a ausência de qualquer aviso prévio à equipe de Lady Gaga por parte das autoridades brasileiras. Segundo representantes da cantora, nem ela nem seus assessores foram informados sobre a investigação ou os riscos em curso. A omissão compromete não apenas a segurança da artista, mas também impede uma avaliação adequada sobre possíveis mudanças de logística ou mesmo o cancelamento do evento.
A justificativa apresentada pelas autoridades — de que o sigilo foi necessário para garantir a eficácia da operação — é controversa. Evitar o pânico é importante, mas isso não justifica omitir informações relevantes de quem poderia ser diretamente afetado. Trata-se de um exemplo clássico de como o desejo de controle absoluto da narrativa pode comprometer a transparência e a confiança entre entidades públicas e civis.
Este caso evidencia o crescente desafio de lidar com crimes de ódio alimentados por comunidades digitais extremistas. Também revela uma lacuna crítica na comunicação institucional diante de ameaças reais. Ao mesmo tempo em que a operação da Polícia Civil deve ser reconhecida por evitar uma possível tragédia, a ausência de diálogo com os envolvidos diretamente no evento — como a equipe da artista — levanta sérias preocupações sobre os protocolos de segurança adotados no Brasil.
Mais do que uma operação bem-sucedida, o episódio serve como alerta para a urgência de políticas públicas eficazes no combate à radicalização online, no fortalecimento de canais de comunicação entre autoridades e organizações civis, e na proteção de populações vulneráveis, como a comunidade LGBTQIA+, constantemente alvo de discursos e ações violentas.