Na teoria, a escola é um espaço de formação intelectual. Na prática, tornou-se abrigo, creche estendida, conselheira tutelar e, cada vez mais, substituta dos pais. Em meio ao caos da rotina moderna e ao esvaziamento da estrutura familiar tradicional, professores enfrentam uma pressão silenciosa, mas brutal: educar no lugar da família — e ainda cumprir as metas pedagógicas
Com a intensificação do mercado de trabalho, especialmente após a pandemia, muitos pais se viram obrigados a trabalhar em jornadas longas e exaustivas. Mas, além da necessidade, existe também uma negligência silenciosa: o abandono emocional. Pais que, mesmo presentes fisicamente, estão ausentes na formação dos filhos — entregues ao celular, à televisão ou à internet.
Para muitos, a escola virou depósito. Um lugar para "deixar a criança segura" enquanto se vive a própria vida, muitas vezes centrada no consumo, no entretenimento e em relações superficiais. O que deveria ser um pilar — a família — hoje se apresenta, em muitos casos, como um agente ausente ou mesmo desestabilizador.
A sobrecarga é real. Além de cumprir o currículo oficial, muitos docentes têm que lidar com questões de saúde mental dos alunos, violência doméstica, desnutrição, agressividade e completa falta de disciplina. Não são raros os casos em que um professor precisa mediar conflitos que, claramente, têm origem em lares desestruturados.
Com tanto esforço voltado para questões sociais e emocionais, o conteúdo pedagógico sofre. É cada vez mais difícil manter o ritmo de aprendizado, principalmente em turmas com múltiplos níveis de maturidade e suporte familiar.
A educação de uma criança não é dever exclusivo da escola nem da família. É uma construção conjunta. Mas essa visão ainda é pouco praticada. O discurso de “a escola educa, os pais criam” perdeu força quando os pais deixaram de criar. E, sem estrutura familiar, a escola segue como linha de frente em uma batalha desigual.
Transformar escolas em centros de acolhimento total pode até parecer solução paliativa, mas não resolve o problema de fundo: a falência da instituição familiar. Os professores estão cansados, desvalorizados e à beira do colapso emocional. E a educação escolar, essa sim, está ficando em segundo plano — soterrada pela ausência dos que deveriam estar ao lado da escola, e não contra ela.