A expressão “uxe” carrega, no cotidiano popular, uma reação de choque, incredulidade e indignação. Para muitos, é apenas uma interjeição. Para outros, como no caso do jornalista e ativista Michel Hajime, tornou-se um símbolo de resistência. Nasceu da dor, da coação e do silêncio forçado. Tornou-se nome de uma ação — e em breve, de uma ONG — que não se cala diante da violência.
Michel escondeu, por duas décadas, o trauma de um abuso sexual cometido dentro de uma emissora de televisão durante sua adolescência. Quando finalmente encontrou forças para denunciar, enfrentou algo ainda mais brutal: a coação institucional, a negação da vítima e o colapso de laços familiares. O rompimento da verdade destruiu estruturas, inclusive dentro de sua casa. Foi nesse abismo que veio à tona a revelação ainda mais profunda — sua própria mãe, aos 70 anos, revelou que também fora abusada aos cinco, e guardou o segredo por 65 anos.
Essa história, infelizmente, não é exceção. É a face invisível de uma sociedade que prefere o silêncio à escuta, a aparência à verdade. Quantas vítimas ainda escondem sua dor? Quantas famílias carregam histórias não ditas, engolidas por medo, vergonha ou desamparo? O ciclo do abuso se perpetua quando o silêncio é imposto, quando a vítima é desacreditada, e quando o sistema — público ou privado — protege o agressor.
A dor que atravessa gerações não deve ser herança. Precisa ser quebrada.
Por isso, iniciativas como a UXE Comunicare são fundamentais. Nascida da indignação de quem sobreviveu à violência e à tentativa de apagamento, a UXE é uma resposta firme à hipocrisia institucional. Ela luta contra crimes digitais e institucionais, sem buscar engajamento ou popularidade, mas sim justiça, proteção e acolhimento real às vítimas.
Que o grito de “uxe” ecoe não como escândalo, mas como despertar. Porque não basta sobreviver — é preciso transformar dor em mudança.