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“Filhos de Ego”: O Perigo da Máscara Religiosa nas Tradições de Terreiro

Nas encruzilhadas do sagrado e do profano, uma questão delicada e urgente paira sobre muitos terreiros de Umbanda e Candomblé: a confusão — intencional ou não — entre ser “filho de Ogum” e ser, na prática, filho do próprio ego.

16/06/2025 às 07h25
Por: Opinião, crítica e análise
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Imagem ilustrativa - Foto: Instagram Filhos de Ogum
Imagem ilustrativa - Foto: Instagram Filhos de Ogum

Ogum é o orixá da ordem, do trabalho, da justiça e da luta. Senhor dos caminhos abertos, é temido por sua espada, mas reverenciado por sua retidão. No entanto, seu arquétipo tem sido distorcido por algumas pessoas que, ao se dizerem seus filhos, assumem posturas que em nada refletem os valores de Ogum. Orgulho, grosseria, autoritarismo e desrespeito têm sido erroneamente apresentados como expressões naturais da força oguniana — quando, na verdade, são apenas máscaras do ego travestido de espiritualidade.

Em diversos espaços religiosos, observa-se o uso do orixá como justificativa para comportamentos abusivos e atitudes desrespeitosas. Líderes espirituais e praticantes que deveriam cultivar a ética, o acolhimento e a sabedoria ancestral transformam o terreiro em um campo de vaidades. O que deveria ser um espaço de cura torna-se palco de disputa de poder, hierarquia tóxica e egos inflados.

Essa distorção não é apenas um problema de conduta pessoal. Ela compromete a imagem pública das religiões de matriz africana, alimentando estigmas e preconceitos já historicamente enfrentados por seus adeptos. Quando o ego se sobrepõe à espiritualidade, perde-se o axé — a energia vital que move e sustenta o sagrado. E sem axé, o terreiro deixa de ser casa de orixá para se tornar palco de teatro humano.

A confusão entre força espiritual e autoritarismo revela uma falha grave de autoconhecimento e de formação religiosa. Ser filho de Ogum não é sinônimo de agressividade ou inflexibilidade. Pelo contrário: é compromisso com a justiça, a honra, o respeito e o trabalho coletivo. O verdadeiro filho de Ogum constrói pontes, não muros. Luta pelo bem comum, não por vaidade pessoal.

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A crítica aqui proposta não busca apontar nomes, mas chamar atenção para uma prática silenciosa que corrói as bases do culto tradicional. É preciso, com coragem, separar o sagrado da soberba. Desmascarar o ego que se esconde sob o escudo do orixá. E, acima de tudo, lembrar: orixá não é escudo para capricho humano — é guia para a evolução espiritual.

O culto aos orixás é, antes de tudo, um caminho de humildade. Quem segue Ogum deve aprender a ouvir o silêncio das estradas antes de brandir a espada. Porque o verdadeiro guerreiro não é aquele que faz guerra — é aquele que conhece o tempo da paz.

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