Os fãs, em sua maioria mais conservadores, não hesitaram em expressar seu desconforto com a possível abordagem mais explícita de temas contemporâneos, como identidade de gênero e fluidos no comportamento dos personagens. No entanto, essas críticas parecem esquecer que, desde o início, "Shrek" foi uma saga que brincava com o politicamente incorreto e desafiava normas sociais. Pinóquio de calcinha, o príncipe afeminado e até mesmo a personagem travesti, são exemplos claros de como a franquia sempre subverteu convenções para satirizar normas e rótulos tradicionais.
O universo de "Shrek", com sua crítica social disfarçada de humor, sempre teve uma inclinação para questionar padrões de gênero. O próprio personagem principal, um ogro que foge de padrões de beleza convencionais e é desafiado por um mundo que o vê como "diferente", pode ser visto como uma metáfora para a aceitação da diversidade. Se o filme, agora, parece mais explícito na abordagem de questões como o gênero, talvez seja porque o mundo em que vivemos mudou, e a franquia está apenas acompanhando esses novos tempos.
A crítica nas redes sociais, focada na adaptação da saga à "nova geração", é um reflexo da resistência ao que muitos percebem como uma mudança "forçada". Entretanto, isso não seria o primeiro momento em que "Shrek" quebra barreiras e desafia a moralidade tradicional. O personagem do príncipe encantado, por exemplo, sempre foi uma paródia de figuras de príncipes de contos de fadas, mostrando um ser de aparência impecável, mas com características afeminadas — uma afronta explícita às imagens idealizadas de masculinidade.
Além disso, personagens como a travesti, que aparece em "Shrek 2", sempre foram parte da visão inclusiva da franquia, ainda que em tons de humor irreverente. Por que, então, seria agora um problema tratar de maneira mais direta esses assuntos, à medida que a sociedade se torna mais aberta e plural em relação à diversidade de identidades de gênero?
O que se vê, talvez, seja a dificuldade de parte do público em aceitar que uma obra que sempre foi irreverente e subversiva continue a acompanhar a evolução das discussões sociais. O medo de que a franquia perca seu charme e "humor sem limites" pode ser legítimo para alguns, mas é preciso reconhecer que a reflexão sobre gênero não é um tema novo para "Shrek". O que parece ser uma mudança no tratamento de certos temas é, na verdade, uma tentativa de atualizar as piadas e as mensagens para um público cada vez mais atento à diversidade.
Em um cenário onde muitos ainda se apegam ao conservadorismo e resistem às discussões sobre identidade de gênero, o "Shrek 5" promete continuar sendo um reflexo das tensões sociais que marcam o nosso tempo. E, talvez, a verdadeira questão não seja se o filme "deve" ou "não deve" abordar esses temas, mas como ele continuará a desafiar seus próprios limites e a dar voz às diferenças. Afinal, o humor sempre foi uma ferramenta poderosa para quebrar barreiras e mudar percepções. Resta saber se o público conseguirá acompanhar essa evolução ou se continuará preso a um "Shrek" do passado, que já não condiz com a realidade plural de hoje.