Esta tática, que muitos chamam de "colocar na geladeira", é uma forma de manter esses profissionais longe dos holofotes, abafando sua popularidade até que seu nome perca força e seu impacto diminua, o que pode, eventualmente, levar ao término do contrato e ao esquecimento de seus nomes na mídia.
A prática já foi observada em diversos casos ao longo da história da emissora, e os exemplos mais emblemáticos envolvem nomes como Sérgio Malandro e Cazé Peçanha, ambos famosos por suas personalidades explosivas e carismáticas, que começaram a brilhar em outras emissoras antes de serem “desaparecidos” pela Globo. Mas a estratégia não se limita a esses dois casos. Ela parece ser uma tática recorrente de controle e domínio de imagem, visando não apenas a manutenção do status quo, mas também a eliminação de concorrentes que possam ameaçar a liderança da Globo no cenário televisivo.
Colocar alguém na "geladeira" significa essencialmente diminuir sua exposição na mídia, mantendo-o afastado do público e sem projetos de destaque. Ao ter seu nome associado apenas a produções de baixa visibilidade ou a programas com pouca audiência, a emissora tenta criar um ambiente onde o apresentador ou celebridade vá gradualmente perdendo relevância. Isso pode resultar no desinteresse do público, fazendo com que sua popularidade esfrie com o tempo, o que, em última instância, facilita o desligamento do contrato sem grandes repercussões.
Sérgio Malandro: Em meados dos anos 80 e 90, Sérgio Malandro era um dos apresentadores mais populares da televisão brasileira, com seu estilo irreverente e programas como "Sérgio Malandro Show" e "TV Colosso". Contudo, após sua migração para a Rede Globo, o apresentador foi lentamente “colocado na geladeira” quando outros nomes começaram a emergir como estrelas da emissora. Seu afastamento foi gradual e, após alguns anos sem um projeto de destaque, seu contrato com a Globo foi encerrado. O resultado? Um nome que, até hoje, é lembrado por suas contribuições à TV, mas com uma carreira significativamente limitada após o período de auge.
Cazé Peçanha: Cazé foi um nome que se destacou inicialmente com o programa "Video Show", na Globo, mas teve seu brilho ofuscado quando se tornou mais popular em outras emissoras. Ele foi colocado em um limbo na própria Globo, sem projetos de grande visibilidade, até ser finalmente dispensado. Mesmo após sua saída, a Globo continuou a seguir sua estratégia de afastamento, fazendo com que o nome de Cazé perdesse força com o tempo.
Eliana: Um caso recente que parece seguir o mesmo padrão é o de Eliana, que começou sua trajetória na Globo, mas ganhou notoriedade na Record, onde permaneceu por muitos anos. Quando a apresentadora retornou à Globo em 2005, ficou evidente que, embora tenha sido contratada em um momento de crescente audiência, a emissora a deixou à margem, com programas que não geraram o mesmo impacto que sua era na Record. Mesmo sendo uma profissional competente, a Globo demorou a encontrar um projeto de destaque para Eliana, o que fez com que sua popularidade se reduzisse. Seu nome passou a perder relevância, e a emissora acabou não sabendo aproveitar o potencial da apresentadora em seu pleno auge.
Essa estratégia pode ser vista como um reflexo da luta pela hegemonia da televisão no Brasil. A Globo sempre foi uma gigante do setor, e seu domínio de audiência sempre foi ameaçado por nomes que surgem em outras emissoras com potencial para virar "concorrentes diretos". Colocar figuras promissoras na "geladeira" pode ser uma maneira de enfraquecer esses talentos e evitar que eles tomem a frente na preferência do público, sem a necessidade de confrontar diretamente o sucesso de outros canais.
Ao limitar a visibilidade de seus apresentadores ou personalidades, a Globo pode criar um ambiente onde sua imagem permanece intacta, sem que o público de outras emissoras consiga se apegar a novos rostos que ofereçam algo diferente. Se um apresentador fica escondido, seu nome eventualmente perde força e sua relevância diminui.
Essa prática, no entanto, levanta questões sobre ética e concorrência no mercado televisivo. Alguns defendem que a Globo está apenas tentando proteger seu império e manter sua posição dominante, mas outros veem nisso uma tática manipulativa para silenciar aqueles que poderiam ter o poder de oferecer algo novo e disruptivo ao público. A questão é: até que ponto essa abordagem é saudável para a liberdade criativa e para o próprio desenvolvimento da indústria televisiva no Brasil?
Com o cenário da televisão mudando com a chegada das plataformas de streaming e novas formas de consumo de mídia, a estratégia da "geladeira" pode ser menos eficaz do que no passado. O público hoje tem acesso a uma variedade muito maior de conteúdo e pode facilmente mudar de canal ou até mesmo buscar alternativas online, sem depender das grandes emissoras tradicionais.
A tática da Rede Globo de "colocar na geladeira" seus apresentadores pode ter sido eficaz no passado, mas no contexto atual de mudanças rápidas na indústria da mídia, onde o público tem mais poder de escolha, essa estratégia parece cada vez mais arcaica e até contraproducente. A pressão por inovação e adaptação ao novo mercado de entretenimento pode forçar as emissoras a repensarem suas táticas de concorrência.
Enquanto isso, o ciclo de colocar celebridades na geladeira e esperar que seu brilho se apague pode estar se tornando um método cada vez mais obsoleto. O verdadeiro desafio para a Globo e outras emissoras será como encontrar formas mais criativas e equilibradas de manter o público fiel, sem recorrer a práticas que possam ser vistas como manipulativas e antiquadas.