A chamada "Síndrome Leite Estragado" – termo irônico e provocativo que une o sobrenome da cantora Claudia Leite, o nome de Jojo Todynho e a história da influencer Andressa Urach, conhecida por sua carreira conturbada e polêmica – é um reflexo dessa manipulação, em que indivíduos, aparentemente, se valem de estereótipos e da visibilidade que a causa gay oferece para promover suas próprias imagens, frequentemente de forma vazia e utilitarista.
O nome dessa síndrome, que talvez pareça cômico, é, na verdade, um grito de alerta sobre como o protagonismo LGBTQIA+ é por vezes usado como estratégia de marketing pessoal, sem que haja um real comprometimento com a causa, a luta e os direitos da comunidade.
A cantora Claudia Leite, famosa pelo seu trabalho na música pop brasileira, tem sido uma das principais figuras associadas à "Síndrome Leite Estragado". A sua relação com a comunidade LGBTQIA+ foi, em muitos momentos, explorada para criar uma imagem de empatia e acolhimento. Durante anos, Claudia usou o "carinho" pelos fãs gays como uma forma de se promover, especialmente em suas campanhas publicitárias, shows e posicionamentos públicos. Ela ficou conhecida por abraçar os gays como "amigos", mas em várias ocasiões, seu discurso e ações pareceram carecer de profundidade, tornando-se um discurso meramente de marketing. A imagem de Claudia Leite, ao longo do tempo, começou a se cristalizar como a de uma "aliada conveniente", cujo ativismo parecia ser mais uma estratégia de imagem do que um compromisso genuíno com as questões da comunidade.
Outro exemplo claro de como a "Síndrome Leite Estragado" se manifesta na mídia brasileira é o caso de Jojo Todynho. A cantora, que alcançou grande sucesso com o hit "Que Tiro Foi Esse?", é frequentemente associada à imagem de mulher empoderada e com discurso contra preconceitos. Contudo, em sua trajetória, Jojo foi acusada de usar estereótipos ligados ao universo LGBTQIA+ para se promover. Como figura pública, ela se tornou conhecida por brincar com sua sexualidade de maneira provocativa, em vários momentos alimentando a curiosidade popular sobre seu comportamento nas redes sociais, tudo isso sem um compromisso real com a diversidade ou inclusão.
Apesar de seu sucesso, Jojo frequentemente se envolveu em polêmicas que envolviam o uso de gestos, falas ou atitudes que poderiam ser interpretados como uma tentativa de capitalizar sobre os estereótipos da comunidade gay para promover sua imagem. Seu comportamento foi criticado por muitos que acreditam que ela estaria, de forma consciente ou não, explorando a identidade de gênero e a sexualidade de forma reducionista, sem oferecer uma real contribuição para a luta LGBTQIA+.
Porém, talvez o exemplo mais controverso de utilização da comunidade LGBTQIA+ para promoção pessoal seja o de Andressa Urach, que fez de sua vida pessoal e de suas experiências uma vitrine pública. Após uma série de declarações polêmicas, Urach usou sua imagem para se reposicionar como uma "prostituta digital", ganhando notoriedade e, por consequência, seguidores nas redes sociais. Sua trajetória de "redenção", onde se posicionava como alguém que havia se distanciado de seus antigos comportamentos, frequentemente envolvia a comunidade LGBTQIA+ de maneira explícita, como se fosse um truque para atrair mais atenção. Entretanto, nunca deixou de seguir políticos homofóbicos.
Urach tornou-se uma "figura polêmica" que, em várias ocasiões, se aproveitou de estereótipos sexuais – incluindo sua relação com a sexualidade e a objetificação do corpo – para gerar repercussão midiática. Sua constante relação com a comunidade gay foi usada como parte de sua estratégia de marketing pessoal, sem qualquer comprometimento com a causa.
O mais grave de tudo isso não é apenas a forma como essas celebridades utilizam a imagem da comunidade LGBTQIA+ para promover suas próprias carreiras. O verdadeiro problema está na falta de responsabilidade em sua representação. A comunidade gay, ao longo de décadas, lutou por direitos básicos de igualdade, aceitação e liberdade. No entanto, quando essas figuras públicas se apropriam de sua imagem sem respeito, e apenas para promover um espetáculo vazio, o impacto disso é imensurável.
Ao tornar-se apenas uma "ferramenta de marketing", a luta pela visibilidade LGBTQIA+ perde sua força e seu poder transformador. Esses comportamentos não só fazem com que a causa perca força, mas também alimentam uma cultura de superficialidade, onde as questões realmente importantes, como os direitos, a igualdade e a educação sobre gênero, são deixadas de lado.
A "Síndrome Leite Estragado" não é apenas uma crítica aos indivíduos citados, mas a um padrão mais amplo da mídia brasileira, que muitas vezes usa figuras públicas como objetos de marketing, sem se importar com a responsabilidade ética que vem com a visibilidade e com a influência pública. Celebridades como Claudia Leite, Jojo Todynho e Andressa Urach, ao utilizarem a comunidade LGBTQIA+ para promover suas imagens, ajudam a perpetuar uma cultura superficial e estigmatizada, em vez de promover um real avanço na luta por igualdade e aceitação.
O que a sociedade e a mídia precisam entender é que a visibilidade e a representação autêntica não podem ser usadas como simples estratégias de promoção. A comunidade LGBTQIA+ merece respeito, apoio genuíno e, acima de tudo, a chance de ser representada de maneira digna, sem ser usada como uma ferramenta de exploração. Só assim conseguiremos romper as barreiras da superficialidade e avançar para uma sociedade verdadeiramente inclusiva.