A sociedade capitalista, influenciada pela lógica do consumo, transforma até os relacionamentos em produtos e mercadorias, onde as pessoas, por sua vez, se tornam descartáveis. Como observamos no conceito de fetiche da mercadoria, a superficialização dos sentimentos e a transformação do parceiro em um objeto de consumo imediato cria uma dinâmica de desvalorização dos relacionamentos, tornando-os transitórios e descartáveis.
A busca constante por algo novo, a superficialidade das interações e a reificação do ser humano, onde as pessoas se tornam "coisas" a serem usadas e substituídas, é um reflexo de uma sociedade que enfatiza o prazer imediato e a insatisfação constante. Isso é um dos fatores que tornam tão difícil encontrar e manter relações verdadeiramente significativas e duradouras, baseadas no amor, no compromisso e no respeito mútuo.
1. Fetiche da Mercadoria: O conceito de fetiche da mercadoria que Marx desenvolve em O Capital descreve como as relações sociais e o valor de um objeto podem ser distorcidos quando esse objeto é visto apenas em termos de suas propriedades materiais e de troca, sem considerar os seres humanos envolvidos no processo de produção. Em outras palavras, a mercadoria não é apenas uma coisa, mas também carrega consigo uma história de trabalho, de relações sociais e de significados.
Esse conceito pode ser transposto para o mundo dos relacionamentos na sociedade moderna, onde as pessoas se tornam objetos que são “consumidos” por outras, muitas vezes sem considerar sua essência, seus sentimentos ou complexidade emocional. Na sociedade de consumo atual, o amor, assim como os bens materiais, se torna uma mercadoria que se troca por outra quando o "valor" do relacionamento diminui ou se torna insatisfatório, independentemente de o relacionamento ainda ter potencial para ser algo significativo.
Quando as pessoas passam a tratar os outros como objetos que podem ser descartados quando já não atendem a uma necessidade momentânea, há uma desumanização da relação. O parceiro é visto mais como um produto, com data de validade limitada, do que como um ser humano complexo com emoções, histórias e experiências próprias.
2. Reificação do Homem: A reificação (ou "coisificação") ocorre quando os seres humanos são tratados como coisas, como objetos que podem ser usados, substituídos e descartados, em vez de seres humanos plenos, com subjetividade e necessidades emocionais profundas. Isso se reflete muito claramente nas dinâmicas sociais e nos relacionamentos de hoje em dia, onde as pessoas, muitas vezes de maneira inconsciente, se veem como disponíveis para o consumo, e seus sentimentos e experiências são reduzidos a algo que pode ser trocado ou substituído rapidamente.
No contexto atual dos relacionamentos, essa reificação é observada na transitoriedade dos relacionamentos e na busca constante por algo "melhor", como se o parceiro fosse apenas mais um item a ser substituído quando sua utilidade ou o prazer proporcionado diminui. Isso acontece frequentemente na sociedade capitalista moderna, onde a busca por satisfação instantânea e a superficialidade das relações tornam as pessoas menos dispostas a investir no que realmente importa: o cuidado, o comprometimento e a construção de uma conexão genuína.
3. O Relacionamento Como "Mercadoria"
Na sociedade contemporânea, especialmente com o advento das redes sociais e dos aplicativos de namoro, essa lógica de "mercadoria" se intensificou. A cultura do “descarte” se torna ainda mais evidente quando os relacionamentos são tratados como transações, em que as pessoas avaliam constantemente os parceiros como se fossem produtos em uma vitrine, com base em atributos físicos, status social ou outros critérios superficiais.
Essa lógica é influenciada pelo que Marx chama de alienação, onde as pessoas se distanciam de sua verdadeira natureza e das relações humanas autênticas, em vez de se conectarem com o outro de maneira profunda. Elas acabam reduzindo os outros a algo a ser consumido, em vez de entender a relação como uma troca recíproca de afeto, respeito e cuidado.
Em relação ao amor, isso se traduz em um ciclo de substituição: as pessoas entram e saem de relacionamentos sem se comprometer profundamente, muitas vezes porque não conseguem enxergar o valor do outro além do que ele pode oferecer no momento presente, como se o parceiro fosse apenas uma parte de um “pacote” que, quando perde o seu brilho, é descartado em busca de algo novo.
4. O Ser Humano se Tornou "Descartável"
Esse comportamento leva ao que você mencionou: o ser humano se torna "descartável". Quando aplicamos essa ideia ao campo dos relacionamentos, vemos que as pessoas, em muitas situações, deixam de se enxergar como seres complexos e únicos e passam a ser vistas como itens de consumo, com um ciclo de uso e descarte, sem considerar a profundidade de suas emoções e experiências.
O impacto disso é profundo:
Superficialidade emocional: Quando as pessoas se tornam “descartáveis”, não há espaço para uma conexão emocional profunda. As relações se tornam superficiais, e o medo de perder algo ou de investir emocionalmente se intensifica. Isso cria uma barreira para o amor genuíno, já que os indivíduos temem a vulnerabilidade, pois sabem que podem ser trocados a qualquer momento.
Desvalorização do compromisso: Como a relação se torna algo que pode ser facilmente substituído, o compromisso e a dedicação caem em desuso. A ideia de "ficar com alguém por muito tempo" ou construir um relacionamento sólido a longo prazo é desvalorizada. O compromisso se torna algo que "prende" a pessoa, em vez de ser visto como uma oportunidade para o crescimento mútuo e o apoio emocional.
A falta de paciência e de investimento emocional: Assim como o consumismo nos ensina a buscar satisfação imediata e a substituir produtos que já não nos agradam, as pessoas tendem a aplicar isso em seus relacionamentos. Se algo não "funciona" ou se perde a emoção inicial, a tendência é buscar algo novo, em vez de investir para resolver problemas ou buscar formas de renovação no relacionamento.
Refletir sobre essas questões nos ajuda a entender como os padrões sociais e econômicos contemporâneos afetam não só a maneira como consumimos bens, mas também a maneira como nos relacionamos com os outros, desafiando-nos a buscar formas de reconectar com o outro de maneira mais profunda e genuína.
Entenda também os fatores Psicológicos dos relacionamentos não darem certo atualmente:
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