Três irmãos — um de 10 anos e gêmeos de 8 — foram resgatados pela Polícia Nacional da Espanha após viverem mais de três anos completamente isolados do mundo exterior, desde o auge da pandemia de Covid-19. O caso chocante foi descoberto em Oviedo, norte da Espanha, onde as crianças viviam confinadas em condições insalubres e sob rígido controle dos próprios pais.
As investigações apontam que os responsáveis, o filósofo alemão Christian Steffen, de 53 anos, e sua esposa germano-americana Melissa Ann Steffen, de 48, mantiveram os filhos dentro de casa desde outubro de 2021. Trancando portas e janelas, o casal impôs um regime severo de confinamento. Os irmãos eram obrigados a usar máscaras — até três sobrepostas — e fraldas, dormindo em berços adaptados com grades, descritos por autoridades como semelhantes a "gaiolas".
Segundo os policiais que conduziram a operação de resgate, a casa estava tomada por lixo, fezes de animais e medicamentos vencidos. Um dos quartos, originalmente destinado a hóspedes, era utilizado para armazenar fraldas sujas. Já o banheiro próximo ao quarto dos gêmeos havia sido ocupado por um gato com um tumor visivelmente avançado.
No quarto das crianças, desenhos macabros chamaram a atenção dos agentes. Rabiscados nos berços, estavam figuras como uma caveira com ossos cruzados e um monstro vermelho gritando — representações perturbadoras que, segundo os investigadores, refletem o ambiente em que os menores estavam inseridos.
O isolamento foi justificado pelos pais com base em um medo extremo da Covid-19. De acordo com autoridades espanholas, ambos sofrem de uma condição que chamaram de “síndrome da Covid”, caracterizada por paranoia intensa e medidas extremas de precaução. A mãe, que pesa cerca de 140 quilos e apresenta dificuldades de locomoção, insistia que os filhos sofriam de doenças graves e que ninguém deveria se aproximar deles.
“O que mais nos marcou foi o momento em que as crianças saíram de casa e respiraram fundo, como se estivessem inalando ar puro pela primeira vez. Uma delas se jogou no chão e tocou a grama com espanto”, relatou uma autoridade ao jornal La Nueva España. Segundo os relatos, as crianças falam principalmente em inglês e estavam completamente desconectadas da realidade exterior.
O pai, Christian Steffen, era o único que deixava a casa — apenas para buscar entregas de supermercado. Apesar de sua formação acadêmica — doutor em filosofia e autor de um livro sobre Heidegger —, ele e a esposa não demonstraram arrependimento ou sequer consciência de terem cometido qualquer infração.
O caso só veio à tona após um vizinho relatar às autoridades o som de crianças que nunca haviam sido vistas fora da residência. Embora a denúncia inicial não tenha gerado ação imediata, as autoridades acabaram intervindo, culminando no que foi descrito como o desmantelamento de uma "casa dos horrores".
“Quando chegamos, o pai estava descalço, desgrenhado e imediatamente nos pediu que usássemos máscaras e mantivéssemos distância. Para nossa surpresa, os pais admitiram o isolamento prolongado sem hesitação e pareciam convencidos de que estavam protegendo os filhos”, disse o inspetor-chefe Francisco Javier Lozano.
As investigações seguem em andamento, e os três irmãos estão sob cuidado de serviços sociais enquanto especialistas avaliam sua condição física e psicológica.