Vivemos uma época marcada por uma crise profunda — não apenas econômica, política ou ambiental, mas uma crise moral e espiritual sem precedentes. Os noticiários, cada vez mais semelhantes a filmes de terror, estampam manchetes diárias de tragédias que parecem inimagináveis: estupros cometidos dentro da própria família, crianças abandonadas, feminicídios, crimes bárbaros, corrupção institucionalizada.
Nas periferias, o tráfico de drogas avança onde o Estado falha. Jovens sem perspectivas são cooptados por organizações criminosas antes mesmo de completarem 15 anos. Em contrapartida, nas áreas mais ricas, a alienação e o individualismo criam outra forma de vazio — um vazio emocional disfarçado de luxo e aparências.
A religião, que por séculos ofereceu abrigo espiritual, também se tornou palco de distorções. Falsos profetas lucram em nome de Deus, vendem bênçãos, espalham ódio contra minorias, alimentam teorias da conspiração e politizam a fé. Usam o nome sagrado para justificar preconceito, violência e exclusão. Muitos desses líderes jamais leram o Evangelho com o coração — porque se tivessem lido, entenderiam que Jesus andava com os pobres, acolhia as prostitutas e lavava os pés dos humildes.
É preciso perguntar: em que momento perdemos o senso de humanidade?
A banalização do mal se tornou uma epidemia invisível. E, ao contrário do que se espera do "fim do mundo", não há explosões ou tsunamis — há silêncio. Um silêncio cúmplice, que naturaliza a morte, a dor e a injustiça como parte da rotina.
Mas o colapso não é definitivo. Ainda existem vozes que resistem. Ainda existem educadores, mães, ativistas, artistas, religiosos sinceros, jornalistas e cidadãos anônimos que tentam, todos os dias, reconstruir a dignidade humana com pequenos gestos. Gente que acredita que a empatia não é fraqueza, mas força. Que amar é, sim, um ato revolucionário.
Essa reportagem não é uma sentença, é um alerta. Ainda podemos — e devemos — reagir. Mas para isso, é necessário coragem. Coragem para encarar a realidade de frente, para denunciar o falso em nome do verdadeiro, para estender a mão em vez de apontar o dedo.
Porque, se o fim do mundo já começou, só a consciência pode salvar o que resta de nós.