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Cavaleiros, Escudeiros e o Amor Silenciado: A História Gay Que Não Quiseram Contar

Na Europa medieval, a figura do escudeiro era quase um rito de passagem. Jovens entre 12 e 21 anos, em sua maioria de famílias nobres, eram designados para servir diretamente a um cavaleiro — limpando suas armas, cuidando dos cavalos e o acompanhando em batalhas. Mais do que isso, eram treinados para absorver os valores da cavalaria: honra, coragem, lealdade... e silêncio.

03/05/2025 às 22h06
Por: Rede Geração
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O que poucos livros de história contam é que, nesse ambiente intensamente masculino, onde o afeto era velado e o contato físico constante, relações homoafetivas podiam — e aconteciam. Alguns registros medievais, como cartas, poemas e confissões, apontam para laços profundos entre cavaleiros e escudeiros, muitas vezes envoltos em linguagem simbólica e religiosa, mas marcados por uma intimidade emocional e, em certos casos, sexual.

Estudiosos como Michel Foucault e Jean Flori discutem que a homossexualidade, apesar de duramente condenada pela Igreja na época, sempre esteve presente — muitas vezes escondida nos espaços mais inesperados: nos monastérios, nas cortes, nos exércitos e, sim, entre cavaleiros.

Um amor escondido sob a armadura

A formação do escudeiro era não apenas militar, mas profundamente social. O convívio diário e intenso com seu cavaleiro criava um espaço de afeto, lealdade e até devoção. A arte medieval — em especial a poesia trovadoresca e os manuscritos iluminados — traz pistas desse amor platônico, idealizado, muitas vezes homoerótico, especialmente em imagens de dois homens abraçados, chorando juntos ou trocando votos de fidelidade eterna.

Claro, nem toda relação entre cavaleiros e escudeiros envolvia desejo sexual. Mas negar essa possibilidade é apagar mais uma vez a presença histórica dos homens gays e de outras identidades dissidentes — algo que a sociedade ocidental tem feito por séculos com violência simbólica e real.

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Gays sempre existiram. O preconceito é que é moderno.

Durante boa parte da história humana, a homossexualidade foi tratada de diferentes formas — em algumas culturas como algo natural, em outras como tabu. O que se mantém constante é uma verdade que muitos ainda insistem em negar: pessoas LGBTQIA+ sempre existiram. Em todas as classes, culturas, períodos e sistemas de crença. A presença de relações homoafetivas entre escudeiros e cavaleiros é só mais um exemplo disso.

Hoje, quando setores conservadores tentam “apagar” ou “reverter” direitos conquistados por essa comunidade, vale lembrar: a homossexualidade não é invenção moderna, nem moda. É história viva.

Contra o preconceito, a verdade

Resgatar essas memórias é um ato político. Revelar que a homossexualidade existia até mesmo nos espaços considerados mais "machos" e “tradicionais” da história europeia — como os exércitos medievais — é uma forma de romper com o discurso de que "não era assim antes".

Sim, era. Sempre foi.

Negar isso é perpetuar um preconceito baseado na ignorância histórica e na manipulação moral. Aceitar essa verdade, por outro lado, é um passo para uma sociedade mais justa, onde ninguém precise esconder quem é — nem por debaixo de armaduras, nem sob o peso da intolerância.

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