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Homoafetividade velada em Mulan

A Ambiguidade de Li Shang: Mulan, Identidade de Gênero e a Omissão da Representatividade Queer na Disney

04/05/2025 às 18h00 Atualizada em 05/05/2025 às 00h02
Por: Rede Geração
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Foto: Disney
Foto: Disney

Quando a animação "Mulan" (1998) estreou nos cinemas, ela foi celebrada por sua narrativa de empoderamento feminino e coragem diante das normas sociais. No entanto, mais de duas décadas depois, o filme da Disney continua provocando discussões — agora, com um olhar voltado para questões de gênero e identidade sexual. Uma das mais intrigantes se refere à relação entre Mulan (disfarçada de homem sob o nome "Ping") e seu comandante, o capitão Li Shang.

Ao longo do filme, Li Shang desenvolve um vínculo de respeito, cuidado e admiração por Ping, sem saber que se trata de uma mulher. Essa conexão emocional, marcada por olhares prolongados, proteção intensa e uma afeição crescente, tem sido interpretada por muitos como uma possível tensão homoafetiva, mesmo que sutil.

Representatividade velada?

Embora a Disney nunca tenha assumido essa leitura, diversos críticos e fãs apontam que há traços claros de atração e afeto entre dois personagens que, naquele momento, se apresentam como homens. Para alguns, isso torna Li Shang um dos raros exemplos — ainda que involuntários — de um personagem bissexual ou queer dentro do universo Disney.

"É claro que a Disney não quis fazer disso uma narrativa LGBTQIA+, especialmente nos anos 90", diz Mariana Lopes, pesquisadora de cinema e gênero. "Mas não dá pra ignorar que há ali um espaço para a interpretação queer, justamente porque Li Shang se afeiçoa a Ping antes de saber quem ela é. Isso mexe com noções de identidade, atração e autenticidade."

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A decisão controversa no live-action

Com o remake live-action lançado em 2020, a Disney optou por remover o personagem de Li Shang, substituindo-o por dois personagens distintos: um comandante mais velho e um colega soldado, sugerido como par romântico de Mulan. Segundo declarações oficiais, a mudança se deu para evitar a "dinâmica de poder" entre superior e subordinado. Mas para muitos fãs, isso foi uma forma de censura preventiva, apagando qualquer chance de interpretação queer.

“A versão original permitia uma leitura progressista e interessante sobre atração e identidade”, afirma o crítico cultural Felipe Leal. “Ao dividir Li Shang, a Disney diluiu essa complexidade e nos deu personagens mais seguros, mas menos interessantes.”

O impacto da leitura queer

A discussão em torno de Mulan e Li Shang toca em um ponto fundamental: a representatividade queer nas produções infantis. Em tempos de maior abertura para discussões de gênero e sexualidade, obras que permitam múltiplas interpretações ganham ainda mais valor.

Mesmo que não intencional, a relação entre Ping e Li Shang representa um momento raro em que a atração transgride a binariedade de gênero tradicional, ainda que sem ser nomeada. E isso, por si só, é um gesto poderoso — principalmente em um estúdio historicamente conservador como a Disney.

"Mulan" segue sendo uma das produções mais significativas da Disney. Mas sua relevância não se limita à luta de uma jovem contra as amarras patriarcais. Ela também desafia — ainda que indiretamente — as normas da heterossexualidade compulsória e da identidade de gênero fixa. E isso, talvez, seja um de seus legados mais revolucionários.

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Mikomi Sugawara
Sobre o blog/coluna
Brasileira, mestiça de japonês, italianos e espanhóis em busca da luta contra o preconceito. Cresci ouvindo: "Que absurdo! Japonês gay!" Contei isso para minha irmã, 14 anos mais velha que mora no Japão há mais de 35 anos e ela disse: "Realmente, um absurdo um pensamento desse, aqui é o que mais tem é gay. O Japão é a junção do tradicional e o moderno. Aqui não tem preconceito. Heteros usam rosa, saem nas ruas de pijama, andam de bicicleta com cestinha, que no Brasil seria um absurdo! É por isso que Japão é Japão!", afirmou ela.

Assim como na Grécia, os homens eram iniciado para a guerra e sexo pelos seus treinadores, os Samurais japoneses também. Gays não são invenção da atualidade, mas a homofobia sim!


Mikomi Sugawara

Jornalistae professora universitária, abusada dentro de emissora de televisão aos 16 anos por um segurança. Produtor de novela me ofereceu trabalho por sexo, durante uma gravação e se masturbou na minha frente dentro do camarim, pouco antes de eu completar 17 anos.

Escondi da minha mãe por 19 anos por vergonha. Meu pai só ficou sabendo depois que fui diagnostica com crise de pânico. E pior, nem pude lutar contra. Fui informada pela delegada que o crime já tinha prescrito. Não imaginava que esse tipo de crime tinha validade, afinal, muitos escondem por anos devido a medo e vergonha.

Ameaçada de morte dentro de redações por jornalistas por ser gay. Vi casos de racimo, gordofobia onde jamais deveria ter, na comunicação, considerada como o quarto poder.

Não sou ativista, mas não aceito crimes e impunidade, e vou lutar contra, como uma verdadeira Samuraia!
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