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Luca e Alberto: Amizade ou Amor Silenciado?

Apesar de ser apresentado como uma história de amizade infantil, muitos viram a relação entre os dois garotos como uma metáfora queer, com paralelos claros ao “sair do armário” (já que os personagens são monstros marinhos escondendo sua identidade)

04/05/2025 às 19h58
Por: Rede Geração
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Foto: Disney
Foto: Disney

Em Luca (2021), da Pixar, o público é apresentado à história leve e encantadora de dois garotos-monstros marinhos — Luca e Alberto — que, ao saírem da água, ganham forma humana e escondem sua verdadeira identidade dos humanos da vila costeira de Portorosso, na Itália. O que parece ser, à primeira vista, uma história de amizade infantil e descoberta do mundo, rapidamente despertou outra leitura entre críticos e espectadores: a de uma metáfora queer sobre identidade, aceitação e amor reprimido.

Luca e Alberto vivem sua experiência de forma escondida, com medo da rejeição dos outros. São diferentes e precisam “se disfarçar” para serem aceitos, sob o risco de violência se forem descobertos. A analogia com o “sair do armário” é evidente — e o próprio diretor, Enrico Casarosa, não negou a possibilidade dessa leitura. Mas, como outros títulos da Disney e da Pixar, o filme evita explicitamente tocar em questões de sexualidade, mantendo tudo no campo da sugestão simbólica.


Uma amizade infantil... ou algo mais?

Luca e Alberto vivem juntos, compartilham segredos, têm ciúmes um do outro e constroem um vínculo emocional intenso. A maneira como se olham, como se cuidam e como se separam ao final do filme não apenas emociona — para muitos, remete à dor do primeiro amor queer, muitas vezes não reconhecido e cheio de medo.

Muitos fãs, especialmente da comunidade LGBTQIA+, viram em Luca uma chance rara de ver a infância queer retratada com sensibilidade — não como algo sexualizado, mas como um afeto genuíno entre dois meninos que descobrem o mundo juntos enquanto escondem quem realmente são.

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Entretanto, a Pixar optou por não nomear a relação e, mais uma vez, o peso da interpretação ficou a cargo do público.


A metáfora do monstro como identidade escondida

O simbolismo dos protagonistas como monstros marinhos que precisam se disfarçar de humanos é um recurso narrativo potente. A metáfora serve para diversas leituras: desde imigração até neurodivergência — mas a que mais ressoou foi a queer. O medo de “ser descoberto”, a necessidade de “esconder quem se é” e a libertação que vem da aceitação lembram fortemente a trajetória de pessoas LGBTQIA+ em sociedades conservadoras.

Ainda assim, a Pixar escolheu não explorar essa dimensão de forma explícita. Segundo Casarosa, o foco era mesmo uma “amizade à la Fellini”, inspirada em sua infância. Mas quando tantas pessoas se viram refletidas naquela história, a omissão do estúdio acabou revelando mais do que escondeu: o desconforto ainda persistente das grandes corporações em afirmar personagens queer em suas narrativas principais — especialmente em produtos voltados ao público infantil.

Representatividade velada: até quando?

É claro que Luca tem valor — sua delicadeza, seu tom onírico e sua abordagem sensível conquistaram muitos corações. Mas representatividade queer não pode se apoiar eternamente na metáfora. A comunidade LGBTQIA+ — especialmente jovens e crianças — precisa de histórias em que possam se ver de forma clara, direta e afirmada.

“Não queremos só metáforas com escamas e disfarces. Queremos personagens que digam: ‘sou gay, sou queer, e isso faz parte de quem eu sou’”, diz Gabriel Torres, psicólogo e ativista LGBTQIA+ voltado à infância e juventude.

Luca é, sem dúvida, uma história linda sobre amizade, liberdade e descoberta. Mas para muitos, também será lembrado como uma das metáforas queer mais explícitas da Pixar — e uma das mais silenciosamente tratadas. Enquanto os grandes estúdios continuarem nadando em círculos em torno da representatividade, deixarão para o público a tarefa de mergulhar fundo nas entrelinhas — quando o que se deseja é narrativa com coragem à flor da pele.

Porque, afinal, ser diferente nunca deveria ser motivo para se esconder — nem na vida real, nem no cinema.

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Mikomi Sugawara
Sobre o blog/coluna
Brasileira, mestiça de japonês, italianos e espanhóis em busca da luta contra o preconceito. Cresci ouvindo: "Que absurdo! Japonês gay!" Contei isso para minha irmã, 14 anos mais velha que mora no Japão há mais de 35 anos e ela disse: "Realmente, um absurdo um pensamento desse, aqui é o que mais tem é gay. O Japão é a junção do tradicional e o moderno. Aqui não tem preconceito. Heteros usam rosa, saem nas ruas de pijama, andam de bicicleta com cestinha, que no Brasil seria um absurdo! É por isso que Japão é Japão!", afirmou ela.

Assim como na Grécia, os homens eram iniciado para a guerra e sexo pelos seus treinadores, os Samurais japoneses também. Gays não são invenção da atualidade, mas a homofobia sim!


Mikomi Sugawara

Jornalistae professora universitária, abusada dentro de emissora de televisão aos 16 anos por um segurança. Produtor de novela me ofereceu trabalho por sexo, durante uma gravação e se masturbou na minha frente dentro do camarim, pouco antes de eu completar 17 anos.

Escondi da minha mãe por 19 anos por vergonha. Meu pai só ficou sabendo depois que fui diagnostica com crise de pânico. E pior, nem pude lutar contra. Fui informada pela delegada que o crime já tinha prescrito. Não imaginava que esse tipo de crime tinha validade, afinal, muitos escondem por anos devido a medo e vergonha.

Ameaçada de morte dentro de redações por jornalistas por ser gay. Vi casos de racimo, gordofobia onde jamais deveria ter, na comunicação, considerada como o quarto poder.

Não sou ativista, mas não aceito crimes e impunidade, e vou lutar contra, como uma verdadeira Samuraia!
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