No entanto, essa suposta defesa da "harmonia" familiar entra em choque com a realidade brasileira: um país com milhões de crianças em situação de abandono, muitas vezes adotadas e acolhidas por casais homoafetivos. Se a harmonia se baseia exclusivamente na reprodução biológica e na estrutura tradicional da família, por que ela falha diante do abandono e da negligência, frutos de casais heterossexuais que supostamente sustentam essa estrutura?
Postagens como “gays não nascem em árvore” e “precisamos de casais heterossexuais para estar vivos” utilizam uma lógica biológica simplista para tentar invalidar a existência e o valor das famílias homoafetivas. Mas o argumento da reprodução não responde a uma questão essencial: a vida que é gerada, está sendo cuidada com dignidade?
Se harmonia social depende apenas da reprodução, como explicar o desequilíbrio ambiental causado pelo excesso de consumo, descarte irresponsável de lixo e desmatamento, muitas vezes impulsionado por modelos econômicos que nada têm a ver com orientação sexual — mas com um padrão de vida predatório?
Diversas passagens bíblicas, inclusive citadas por defensores da inclusão, apontam para um eixo claro: o amor ao próximo como base da vida cristã. Jesus afirmou:
“Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22:39)
“Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.” (João 13:35)
Essas palavras não condicionam o amor à orientação sexual, à estrutura familiar ou à capacidade reprodutiva. Pelo contrário, ampliam a noção de “próximo” e colocam o amor como elemento central da vivência espiritual. A parábola do Bom Samaritano (Lucas 10:25-37) reforça que o verdadeiro próximo é aquele que age com compaixão — e não quem pertence a um grupo específico.
O apóstolo Paulo, em Gálatas 5:14, foi ainda mais direto:
“Porque toda a lei se cumpre numa só palavra: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.”
Essa “lei do amor” se opõe a qualquer tipo de exclusão. A pergunta que emerge é: onde está o amor quando se nega a dignidade, o direito à família e ao afeto a pessoas LGBTQIA+?
No Brasil, a Constituição assegura o direito à liberdade religiosa. No entanto, desde 2019, a homofobia foi equiparada ao crime de racismo pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Isso significa que manifestações públicas que incitem ódio, violência ou discriminação contra pessoas LGBTQIA+ são ilegais e passíveis de punição.
Reproduzir frases como “gays não nascem em árvore, precisamos de casais héteros para existir” pode configurar crime de homofobia, se o conteúdo da fala:
É usado para desqualificar ou inferiorizar pessoas LGBTQIA+;
Impede o acesso a direitos (como adoção, casamento, educação, emprego);
Instiga ou legitima violência simbólica, verbal ou física.
É importante distinguir liberdade de crença pessoal de discurso de ódio público. O cidadão pode acreditar nos valores que desejar, mas quando essas crenças são transformadas em falas ou ações que ferem a dignidade do outro, a lei entra em ação.
A sociedade brasileira é diversa, plural e fundada no princípio da dignidade da pessoa humana. A harmonia social não está na uniformidade, mas no respeito às diferenças. Casais homoafetivos, quando cuidam, acolhem e amam, estão cumprindo o maior dos mandamentos cristãos — mesmo que alguns tentem desconsiderá-los com base em discursos ultrapassados ou mal-interpretados.
Como nos lembra Tiago 2:8:
“Amarás a teu próximo como a ti mesmo — bem fazeis.”
O bem, no fim das contas, está no amor — e não na reprodução, nem na exclusão.