Na corte europeia do século XV, ser desejada não era sinônimo de magreza. Pelo contrário — em uma época de escassez alimentar e altos índices de mortalidade, a gordura era símbolo de prosperidade, fertilidade e nobreza. É nesse contexto que se destaca a história quase esquecida de uma princesa cuja aparência, hoje considerada “fora dos padrões”, era, naquela época, o epítome da beleza ideal.
Segundo registros históricos do reino de Valtaria — um ducado fictício inspirado em casos reais da Europa feudal —, a princesa Adalberta era uma mulher de formas generosas, rosto arredondado e traços suaves. Ela era cortejada por príncipes e nobres de todo o continente. Pinturas da época retratam sua silhueta ampla como um sinal de saúde e riqueza. Adalberta era considerada o partido ideal: bela, fértil e símbolo de estabilidade dinástica.
Na sociedade medieval, as curvas volumosas de uma mulher significavam muito mais do que atração física. Representavam uma família bem nutrida, uma casa próspera e um futuro assegurado. Em tempos de fome frequente e vida curta, o corpo gordo era literalmente um corpo de poder.
A imagem que criamos dela nos dias atuais, inspirada nos traços renascentistas preservados por retratistas antigos, revela uma mulher segura, imponente e coberta por roupas ricas em tecidos e cores. Porém, sob o olhar do século XXI, essa princesa seria frequentemente invisibilizada ou alvo de estigmas — vítimas do padrão contemporâneo de magreza extrema, juventude e perfeição estética digital.
Nas redes sociais, revistas e até nas telas de cinema, a beleza hoje é moldada por filtros, dietas e cirurgias. Mulheres como Adalberta, com corpos reais e distantes do padrão atual, enfrentam julgamentos sutis e explícitos. Enquanto antes a gordura era status, hoje é muitas vezes vista como descuido — um reflexo claro de como a sociedade transformou o corpo em uma mercadoria regulada por tendências.
Ao reimaginar Adalberta nos dias de hoje, não a transformamos. Não a moldamos ao padrão vigente. Apenas a colocamos sob uma nova luz — a contemporânea — mantendo sua figura autêntica. O contraste serve como um lembrete poderoso: a beleza é uma construção cultural, profundamente mutável, e sujeita aos valores do tempo.
Hoje, ao observarmos seu retrato refeito com técnicas modernas, vemos o mesmo que os homens e mulheres do seu tempo viam: dignidade, beleza e presença. Mas também somos confrontados com nossa própria superficialidade atual, onde o valor do corpo muitas vezes se sobrepõe ao valor da pessoa.
A história da princesa Adalberta não é apenas curiosa — é um espelho. Nos mostra como o que chamamos de “belo” é uma decisão social e temporária. Se ontem ser gorda era ser bela, quem define a beleza de hoje? E mais importante: por que seguimos aceitando que alguém a defina por nós?