Publicidade

Teatro inclusivo em cena: “Daqui Ninguém Sai” rompe barreiras e amplia acesso à cultura

Com atriz surda no elenco e tradução em Libras em todas as apresentações, espetáculo reafirma o papel do teatro como ferramenta de inclusão social e representatividade

01/06/2025 às 13h34 Atualizada em 01/06/2025 às 13h45
Por: Rede Geração
Compartilhe:
Foto: Vitor Dias
Foto: Vitor Dias

Mais do que um espetáculo teatral, “Daqui Ninguém Sai” é uma declaração de princípios. Em tempos nos quais a diversidade ainda é frequentemente tratada como exceção, a nova montagem do Teatro de Comédia do Paraná (TCP) coloca em prática algo que o setor cultural brasileiro há muito discute, mas raramente concretiza: a verdadeira inclusão.

A peça não só garante acessibilidade para o público surdo com intérpretes de Libras em todas as apresentações, como também conta com uma atriz surda no elenco, Paula Cristina Roque, com mais de dez anos de trajetória nas artes cênicas. Sua presença em cena, assim como a forma como o texto foi adaptado e vivido por ela — em Libras, com expressividade facial e corporal — aponta para uma mudança estrutural e urgente no modo como pensamos o teatro: não apenas como espetáculo, mas como espaço de pertencimento.

“Quando a tradução e a inclusão deixam de ser apêndices e passam a fazer parte da linguagem artística, o que se vê no palco é outra coisa: é potência”, afirma um dos espectadores, surdo, que acompanhou a estreia da temporada. A atuação de intérpretes especializadas como Elisa Maganhoto e Talita Grünhagen, integradas de forma orgânica à encenação, comprova isso.

Continua após a publicidade
Anúncio

Representatividade que transforma

O processo seletivo para o elenco adotou critérios diferenciados, priorizando mulheres, pessoas negras, comunidades tradicionais, LGBTQIAP+, pessoas com deficiência e pessoas idosas. O resultado é um elenco que reflete a complexidade da sociedade brasileira, rompendo com o padrão homogêneo ainda predominante nos palcos do país.

Mais do que apenas ocupar espaços, esses corpos diversos reescrevem o que se entende como “universal” no teatro. Não há neutralidade quando se escolhe quem conta a história — e “Daqui Ninguém Sai” assume com clareza o compromisso de contar com outras vozes, outras experiências, outros modos de ver o mundo.

Inclusão como prática — e não discurso

Há anos fala-se sobre a necessidade de tornar o teatro mais acessível, mas poucos espetáculos vão além da intenção. “Daqui Ninguém Sai” é um caso raro em que a inclusão não é apenas um recurso técnico (como a presença de intérpretes), mas uma escolha estética e política.

É fundamental destacar que a presença de pessoas com deficiência não deve ser apenas no público, mas também na criação. Ter uma atriz surda em cena, com protagonismo e liberdade criativa, é um marco. Paula Cristina Roque não foi apenas incluída — ela transformou o texto, reinterpretou linguagens e ampliou os sentidos da obra.

Essa abordagem reflete o que há de mais avançado em termos de arte e inclusão: não se trata de adaptar a realidade da pessoa com deficiência à cena, mas de adaptar a cena a uma realidade mais plural.

Acesso gratuito e democratização cultural

Outro ponto relevante da montagem é o acesso gratuito. Em um país onde grande parte da população ainda está à margem dos espaços culturais por barreiras econômicas, oferecer entrada livre é um ato de democratização.

Quando esse acesso gratuito vem aliado à inclusão de públicos historicamente excluídos — como o público surdo —, temos um exemplo concreto de como a cultura pode ser ferramenta de transformação social.

Teatro como lugar de pertencimento

Com dramaturgia de Henrique Fontes e equipe técnica de excelência, o espetáculo celebra o centenário do autor Dalton Trevisan com respeito à sua obra e, ao mesmo tempo, com uma ousadia estética que honra a tradição inovadora do TCP.

“Dalton era discreto, mas amava ver suas histórias no palco. E essa peça talvez seja uma das mais completas homenagens que sua obra já recebeu: humana, atual e coletiva”, comentou a atriz Nena Inoue, relembrando a relação afetiva entre o autor e o Teatro Guaíra.

“Daqui Ninguém Sai” mostra que a inclusão, quando real e bem planejada, não empobrece a arte — enriquece. Amplia repertórios, desafia formas, expande horizontes.

Que essa montagem sirva de exemplo e inspiração para outras iniciativas culturais. A acessibilidade não pode mais ser tratada como diferencial, mas como parte fundamental de uma arte que verdadeiramente quer dialogar com todos.

Serviço:

"Daqui Ninguém Sai"

23 de maio a 15 de junho, sempre às sextas-feiras e sábados, às 20h30, e domingos, às 18 horas

Local: Auditório Salvador de Ferrante (Guairinha) - a entrada do público será pela pela Rua Amintas de Barros. Pessoas com deficiência motora ou dificuldade de locomoção podem entrar pelo saguão do Guairinha.

Classificação: 16 anos

Duração: 100 minutos

Ingressos à venda por R$20 (inteira) e R$10 (meia-entrada), na bilheteria do Centro Cultural Teatro Guaíra e no site DiskIngressos

Acessibilidade: o espetáculo conta com intérprete de libras.

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários
Curitiba - PR
Sobre o município
Curitiba é a capital do Paraná e uma das cidades mais organizadas e sustentáveis do Brasil. Fundada em 1693, destaca-se pelo transporte público eficiente e planejamento urbano inovador. É conhecida como "cidade modelo" e abriga importantes parques, como o Jardim Botânico. Possui forte influência da imigração europeia, especialmente alemã, italiana e polonesa. Curiosamente, tem um dos invernos mais frios entre as capitais brasileiras.
Ver notícias
Publicidade
Economia
Dólar
R$ 5,54 +0,05%
Euro
R$ 6,42 +0,07%
Peso Argentino
R$ 0,00 +0,00%
Bitcoin
R$ 608,757,22 -2,47%
Ibovespa
137,799,73 pts 0.49%