Por décadas, a expressão “pão e circo”, herdada do Império Romano, serviu como metáfora para a manipulação popular por meio do entretenimento e da satisfação de necessidades básicas. No Brasil contemporâneo, no entanto, a fórmula parece ter evoluído — ou, talvez, se deformado. Substitui-se o pão pela pizza, expressão nacionalmente conhecida para indicar impunidade e desfechos inconclusivos. Surge, assim, a combinação moderna e tristemente eficaz: pizza e circo.
Essa nova metáfora traduz com precisão a conjuntura brasileira. O circo, entendido como a espetacularização dos acontecimentos — das sessões parlamentares transmitidas ao vivo aos julgamentos em redes sociais — continua a distrair. Já a pizza não se refere mais ao alimento em si, mas ao velho jargão que simboliza escândalos abafados, investigações arquivadas, e promessas que evaporam antes de virar ação.
Nas redes sociais, no noticiário ou nas conversas de bar, a sensação é de que tudo termina em pizza. A CPI que não resulta em punições, o político investigado que continua no cargo, a grande operação que esfria com o tempo. O espetáculo segue, mas o enredo é conhecido: aplausos e indignação no primeiro ato, silêncio no final.
Esse ciclo cria um efeito corrosivo sobre a confiança da população nas instituições. Ao mesmo tempo em que há indignação coletiva, há também uma espécie de anestesia moral. A sucessão de escândalos e a ausência de desfechos concretos formam um caldo de descrença generalizada, um ambiente onde tudo parece possível, inclusive o absurdo.
A metáfora da pizza e circo aponta, portanto, para um país em que a política se transforma em performance e a justiça em ilusão. O povo, espectador e vítima, assiste ao espetáculo sabendo que, ao fim, não haverá mudança — apenas mais um episódio a ser esquecido quando o próximo escândalo surgir.
Enquanto o circo diverte e a pizza acomoda, o país segue sua marcha, anestesiado e fragmentado, entre risos nervosos e resignação cínica.