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Desinformação sobre autismo cresce 15.000% e acende alerta

Relatório da FGV mostra explosão de conteúdo falso nos aplicativos de mensagem e alerta para riscos à saúde e violação de direitos de pessoas autistas

23/06/2025 às 10h02
Por: Opinião, crítica e análise
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Foto: Assessoria
Foto: Assessoria

O Brasil é hoje um dos principais epicentros globais de disseminação de desinformação sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). De supostas "curas milagrosas" a teorias conspiratórias perigosas, conteúdos enganosos se espalham com força, especialmente nas redes sociais e em grupos de mensagens.

Um estudo inédito do Laboratório de Estudos sobre Desordem Informacional e Políticas Públicas da FGV, em parceria com a Associação Autistas Brasil, analisou mais de 58 milhões de mensagens em comunidades do Telegram entre 2019 e 2024. O levantamento revelou que a desinformação sobre o autismo cresceu impressionantes 15.000% no período — e que 46% desse conteúdo foi gerado ou compartilhado em comunidades brasileiras, o maior percentual da América Latina.

O ciclo da desinformação: de fake news a decisões perigosas

A desinformação sobre autismo não se restringe a boatos inofensivos. Ela impacta diretamente decisões de famílias e profissionais, colocando em risco a saúde e o bem-estar de crianças e adultos autistas. Entre os conteúdos mais recorrentes estão promessas de "cura" por meio de dietas restritivas extremas, uso de substâncias não regulamentadas ou mesmo terapias sem respaldo científico.

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“A ideia de que o autismo é algo a ser eliminado ou corrigido alimenta práticas violentas, desde internações forçadas até o uso de substâncias como MMS (clorito de sódio), que é altamente tóxico”, afirma o especialista em inclusão, Professor Nilson Sampaio. Além dos riscos à saúde, a propagação de mitos prejudica a luta pela inclusão e pelo respeito à neurodiversidade. Narrativas que associam autismo a vacinas, negligência parental ou influências tecnológicas minam o entendimento público e reforçam o estigma social.

Professor Nilson Sampaio, especialista em TEA luta contra supostas "curas milagrosas" a teorias conspiratórias perigosas, conteúdos enganosos se espalham com força na internet

Por que o Brasil? Ambientes digitais, desinformação e vulnerabilidade

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O cenário brasileiro reúne condições particularmente propícias para o crescimento da desinformação: alto uso de redes sociais, déficit de políticas públicas em saúde digital, dificuldade de acesso a diagnósticos e tratamentos adequados, e uma cultura de desconfiança em relação à ciência. “A falta de apoio do Estado para famílias que recebem o diagnóstico leva muitas delas a buscarem alternativas por conta própria, e aí caem facilmente em armadilhas”, explica Sampaio.

Grupos em aplicativos de mensagens, fóruns e perfis com grande alcance costumam misturar conteúdos com aparência científica e pseudociência, atraindo seguidores com linguagem emocional e promessas rápidas. Em muitos casos, há também exploração financeira — venda de cursos, terapias e suplementos que prometem reverter ou "normalizar" o comportamento autista.

Educação midiática e políticas públicas: os caminhos possíveis

Diante do avanço das fake news, cresce a demanda por políticas públicas que promovam alfabetização midiática, fiscalização da publicidade de terapias alternativas e garantia de acesso a diagnósticos precoces e serviços baseados em evidências. O PL 2630/2020, conhecido como “PL das Fake News”, voltou a ser debatido no Congresso com foco especial na regulação de plataformas digitais. Organizações ligadas à neurodiversidade pressionam para que o tema da desinformação sobre deficiência seja incorporado ao texto da lei. “Não se trata de censura, mas de proteger famílias de promessas falsas e de promover o acesso à informação segura e validada por profissionais”, argumenta Sampaio

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