Morte de Rodrigo Boschen no supermercado Muffato em Curitiba gera revolta, ação judicial e pressão nas redes
A morte brutal de Rodrigo da Silva Boschen, de 22 anos, em Curitiba, após uma abordagem violenta por funcionários do supermercado Muffato, tem gerado repercussão nacional. O jovem, que foi acusado de tentar furtar uma barra de chocolate, morreu na última quinta-feira, dia 19, e o caso agora é tratado como homicídio qualificado, com indícios de tortura e humilhação.
De acordo com a investigação policial e imagens obtidas pelas autoridades, a abordagem teve início dentro do supermercado, o que contradiz a versão inicial da empresa de que o crime teria ocorrido fora das dependências do estabelecimento. Essa contradição pode pesar no processo de responsabilização civil da rede.
O corpo de Rodrigo foi encontrado com os pés amarrados, lesões em diversas partes do corpo e sinais evidentes de violência. A calça abaixada sugere um ato de humilhação intencional, reforçando a tese de espancamento com crueldade. Para especialistas, os indícios apontam para um crime cometido com dolo, ou seja, com intenção de causar sofrimento.
O uso de força excessiva por parte de seguranças privados, especialmente em áreas comerciais, reacende o debate sobre os limites da segurança privada no Brasil. Casos como este evidenciam a urgência de regulamentações mais rigorosas e de fiscalização efetiva das empresas terceirizadas.
Quatro pessoas foram identificadas como envolvidas na morte do jovem. Dois homens estão presos: um segurança terceirizado e um motociclista que, segundo relatos, passava pelo local e decidiu participar da agressão. Um terceiro, segurança do mercado, foi solto. O quarto suspeito, funcionário do setor de hortifrúti, está foragido e é apontado como autor do golpe conhecido como “mata-leão”, que pode ter sido fatal.
Apesar da gravidade do caso, a empresa Muffato se limitou a informar, por meio de nota, que “lamenta profundamente o ocorrido” e que está colaborando com a Justiça. A defesa da rede alega que o crime aconteceu do lado de fora da loja — o que é contestado pelas imagens internas.
Outro aspecto chocante do caso foi a demora na identificação do corpo e na comunicação à família. Rodrigo foi morto na quinta-feira, mas os parentes só souberam do ocorrido na segunda-feira seguinte, após vídeos da agressão começarem a circular nas redes sociais.
A identificação digital, que deveria ter sido feita rapidamente por meio dos registros do TSE, não foi realizada em tempo hábil. A família denuncia descaso institucional e questiona se a lentidão na comunicação se deu por preconceito social.
A família de Rodrigo Boschen confirmou que vai entrar com ação judicial contra a rede Muffato, pedindo responsabilização civil pelo ocorrido. O argumento principal é que a empresa tem o dever de zelar pela integridade de todos dentro de seu espaço, mesmo quando atua com empresas terceirizadas.
De acordo com o Código Civil, empregadores e contratantes podem ser responsabilizados pelos atos ilícitos cometidos por seus prepostos, ainda que contratados de forma indireta. A omissão da empresa, segundo a acusação, configura negligência grave.
Desde a divulgação do caso, redes sociais como Instagram, Twitter (X) e WhatsApp têm sido palco de manifestações massivas. Grupos de consumidores pedem o boicote ao supermercado Muffato e exigem respostas claras sobre a política de segurança da rede.
Ao mesmo tempo, surgiram perfis falsos em redes sociais tentando justificar a agressão. Contas com nomes genéricos, sem postagens e com poucos seguidores têm tentado disseminar desinformação e culpar a vítima. Especialistas alertam para o uso de bots e perfis fakes em campanhas de manipulação digital para proteger a imagem de marcas envolvidas em escândalos.
Rodrigo era jovem, tinha transtornos mentais, usava medicamentos e havia sido classificado como usuário em uma abordagem anterior, sem antecedentes criminais. Foi morto acusado de um suposto furto que não foi comprovado — e mesmo que tivesse ocorrido, nada justificaria a violência sofrida.
O caso, ocorrido em Curitiba, levanta questionamentos sobre o preconceito estrutural, a forma como a sociedade trata pessoas com sofrimento mental e a facilidade com que vidas consideradas "marginalizadas" são descartadas.
A morte de Rodrigo Boschen no supermercado Muffato não é um episódio isolado. É reflexo de uma cultura de violência, omissão institucional e ausência de controle sobre o uso da força por agentes privados. Enquanto a Justiça não se pronuncia de forma definitiva, a sociedade se mobiliza para que esse caso não caia no esquecimento.