Durante uma festa junina, dois rapazes foram surpreendidos por seguranças dentro de um banheiro químico, em uma situação de intimidade. O caso rapidamente viralizou, mas vai muito além do escândalo moral ou da transgressão de regras de comportamento público. O episódio escancara um fenômeno pouco debatido: o número crescente de homens que se relacionam com outros homens às escondidas — enquanto mantêm uma vida “hétero” em público.
Esse tipo de comportamento não é novo. Muitos homens que se dizem heterossexuais — ou que se autodefinem como “héteros versáteis” — mantêm relações sexuais com outros homens ou com pessoas trans, mas não se assumem como bissexuais, por medo do julgamento social, do preconceito e da perda de seus privilégios dentro da heteronormatividade.
A festa junina e o banheiro químico foram apenas o palco de um enredo que se repete em motéis, saunas, aplicativos e “banheirões”: homens que traem suas esposas ou namoradas com outros homens, sem nunca conversar honestamente sobre suas vivências sexuais e afetivas. Esse tipo de traição é duplamente violenta — por ser desonesta com a parceira e por manter a própria sexualidade sob uma máscara de vergonha e negação.
Mais do que um flagrante, o caso reflete a repressão que ainda cerca a bissexualidade masculina, muitas vezes silenciada ou tratada como algo “confuso”, “vergonhoso” ou “proibido”. Em vez de um debate honesto sobre desejo, liberdade e consentimento, o que se vê é a exposição pública, o deboche e a criminalização seletiva da intimidade entre dois homens.
Enquanto isso, casais héteros continuam a transgredir em público sem a mesma repressão ou humilhação. A pergunta que fica é: o problema é o ato, ou quem o pratica?