Domingo, 16 de Março de 2025
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A criminalidade é culpa da sociedade

A sociedade cria o marginal, insere ele na sociedade, depois diz que o que ele faz é errado e que ele não é aceito por ela

10/03/2025 às 11h38 Atualizada em 10/03/2025 às 11h48
Por: Rede Geração
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Foto: Trecho do filme: Laranja Mecânica - Distribuição Warner Bros
Foto: Trecho do filme: Laranja Mecânica - Distribuição Warner Bros

A Criminalidade é Culpa da Sociedade? Uma Análise Crítica de Laranja Mecânica e a Criação do Marginal

Laranja Mecânica, um dos filmes mais icônicos e polêmicos da história do cinema, dirigido por Stanley Kubrick e baseado no livro de Anthony Burgess, continua a provocar debates sobre a violência, a criminalidade e a responsabilidade social. O filme segue Alex DeLarge, um jovem delinquente em uma sociedade futurista e decadente, que encontra prazer na brutalidade e no caos. À medida que a história se desenrola, uma questão fundamental emerge: até que ponto a sociedade é responsável pela criação do criminoso?

Em Laranja Mecânica, a criminalidade não é retratada apenas como uma questão individual, mas como um reflexo das falhas e contradições de uma sociedade que busca reprimir, controlar e moldar seus cidadãos. O filme apresenta uma análise profunda sobre como o ambiente social, a falta de afeto, o abandono e a opressão podem influenciar o comportamento humano, levando ao surgimento de marginais como Alex. Mas seria a sociedade realmente culpada pela criminalidade, como o filme sugere? Vamos analisar essa questão sob uma ótica crítica.

O filme também critica o sistema prisional: Crítica a Laranja Mecânica: O Sistema Prisional e a Falência da Reabilitação

A Sociedade Como Fábrica de Marginais

No início de Laranja Mecânica, somos apresentados a um mundo distópico onde a violência é um reflexo de uma sociedade corroída por normas repressivas e um sistema de controle rígido. Alex, o protagonista, e seus amigos, conhecidos como "droogs", se envolvem em atividades violentas e criminosas, como roubos, agressões e até estupros, sem qualquer remorso. O filme, então, apresenta uma crítica à falência do sistema social, mostrando que, em vez de ajudar a evitar a criminalidade, a sociedade muitas vezes acaba alimentando esse comportamento destrutivo.

A criação de Alex como um criminoso parece ser o produto de uma série de fatores sociais. Ele é criado em um ambiente onde não há afeto genuíno e onde a violência é normalizada. A negligência por parte de seus pais, o abuso de poder de autoridades e a falta de oportunidades e perspectivas em uma sociedade decadente moldam sua visão de mundo e seus comportamentos. No filme, Alex não nasce malvado; ele é, de alguma forma, "feito" pela sociedade que o cercava. Isso leva a uma reflexão profunda: a criminalidade é fruto da escolha pessoal ou é uma consequência das condições em que os indivíduos são forjados?

O Sistema de Controle e a Violência como Resposta

Uma das questões mais perturbadoras de Laranja Mecânica é o tratamento que a sociedade oferece aos seus marginais. O filme não só mostra a criação do criminoso, mas também a tentativa de "reformá-lo" por meio de um experimento governamental de controle mental, conhecido como "tratamento Ludovico". Esse tratamento tem como objetivo eliminar a capacidade de Alex de realizar atos violentos, mas, ao fazê-lo, ele também é despojado de sua autonomia, personalidade e liberdade.

Este processo, embora tenha como objetivo transformar Alex em um "cidadão exemplar", na verdade revela a falha da sociedade em lidar com o problema da criminalidade de forma eficaz. Em vez de focar nas causas subjacentes da violência, o sistema busca uma solução rápida e autoritária, que ignora a complexidade do comportamento humano. Laranja Mecânica nos faz questionar: até que ponto o sistema é eficaz na reintegração de um indivíduo à sociedade? Será que, ao tentar “reparar” o criminoso, a sociedade não está, na verdade, continuando a reforçar a desigualdade e a opressão que o levou à marginalização em primeiro lugar?

A Normalização da Violência

Outro ponto central que o filme levanta é a normalização da violência dentro da própria sociedade. A violência de Alex, embora exacerbada e brutal, reflete um comportamento que é muitas vezes ignorado ou aceito de forma passiva no cotidiano das pessoas. A sociedade em Laranja Mecânica não reage à violência de forma eficaz, mas apenas a marginaliza e criminaliza. O filme sugere que o comportamento desviado é, em parte, uma resposta à alienação social e à falta de conexão entre o indivíduo e a comunidade.

Alex, como um reflexo da sociedade distópica em que vive, representa não apenas o produto de uma família disfuncional, mas também de uma estrutura social que se recusa a tratar as causas profundas da criminalidade. O que Laranja Mecânica nos ensina é que a violência e a marginalização são muitas vezes alimentadas pela ausência de oportunidades, a repressão emocional e a indiferença do sistema diante das necessidades humanas básicas.

A Responsabilidade Social

Embora o filme sugira que a sociedade desempenha um papel significativo na criação do criminoso, Laranja Mecânica também nos obriga a refletir sobre a responsabilidade pessoal. É possível que a sociedade tenha falhado em dar a Alex as ferramentas para lidar com o mundo de forma saudável, mas isso não exclui a sua própria escolha em seguir o caminho da violência. A questão não é apenas sobre o ambiente em que ele foi criado, mas também sobre o que ele escolhe fazer com as circunstâncias que enfrenta. No final, Alex não pode ser visto como uma vítima completa, mas como alguém que, apesar das condições adversas, ainda toma decisões que o levam à criminalidade.

A questão da responsabilidade social e pessoal, portanto, é complexa e multifacetada. Laranja Mecânica nos desafia a olhar para a criminalidade de uma perspectiva mais ampla, onde as condições sociais e culturais não podem ser ignoradas. O filme sugere que, sem mudanças significativas nas estruturas sociais, a violência e a criminalidade continuarão a se perpetuar, criando uma espiral de marginalização e opressão.

O Papel da Sociedade na Criminalidade

Laranja Mecânica é uma crítica mordaz à sociedade que cria, cultiva e, em última instância, marginaliza aqueles que não se encaixam em seus moldes. Através da história de Alex, o filme nos mostra que a criminalidade não é apenas uma questão de escolha individual, mas uma consequência direta das condições sociais, políticas e culturais em que o indivíduo está inserido. A marginalização, a violência e a alienação não podem ser vistas apenas como falhas pessoais, mas como o resultado de um sistema que falha em fornecer as condições necessárias para o desenvolvimento saudável do indivíduo.

A reflexão que Laranja Mecânica nos propõe é clara: a criminalidade não pode ser compreendida isoladamente, sem considerar o contexto social em que ela se manifesta. Enquanto a sociedade continuar a negligenciar as causas profundas da violência e a perpetuar a desigualdade, continuará a gerar marginais e a criar um ciclo de exclusão e destruição.

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