Maringá, conhecida por seus altos índices de qualidade de vida e planejamento urbano, também abriga uma comunidade LGBTQIA+ que cresce em visibilidade e expressão artística. No entanto, por trás das luzes neon das boates e do brilho das performances, ainda persistem sombras de preconceito — muitas vezes vindas de onde menos se espera: de dentro da própria comunidade.
A drag queen maringaense Allana Summers, conhecida nas noites da cidade como DJ, hostess e performer, traz à tona uma realidade incômoda. “A comunidade gay de Maringá ainda tem muitos preconceitos a respeito da aparência de cada um. Preconceito contra gordinhos, preconceito com a faixa etária... A aparência é um dos principais filtros nos relacionamentos, e isso fere”, denuncia Allana.
A crítica não se limita à região: “Isso não acontece só aqui, mas no Brasil inteiro, senão no mundo. A aparência conta muito, e o que falta é empatia. O que precisa mudar seria que as pessoas aceitassem mais como as outras são e se importassem com os sentimentos, não só com a estética”, conclui.
A fala de Allana revela o que muitos preferem não discutir. Em um ambiente que deveria ser de acolhimento e liberdade, corpos ainda são julgados, idades marginalizadas e estilos rotulados. O padrão de beleza – branco, jovem, magro e com estética "Instagramável" – ainda dita regras invisíveis, tornando a comunidade excludente com seus próprios membros.
Mas nem tudo é desilusão. No campo artístico, Maringá vem mostrando sinais de expansão e inclusão. “O cenário artístico da cidade está ficando cada vez mais diverso”, comemora Allana. “Temos góticos, bissexuais, várias expressões e estilos. As drags também estão mais plurais e representativas.”
Essa diversidade crescente, porém, precisa de apoio mais sólido – seja de políticas públicas culturais, seja do próprio público LGBTQIA+ e seus aliados. Ainda há uma lacuna entre a representatividade de palco e a aceitação no cotidiano.
Reflexão necessária
É urgente repensar o que significa "comunidade". Se a ideia é acolher, proteger e celebrar diferenças, não se pode permitir que preconceitos velados ou disfarçados de "preferência pessoal" se perpetuem. Autoaceitação começa com o respeito ao próximo.
Allana Summers, com sua arte e seu posicionamento, lança um convite corajoso: é hora de olhar para dentro, reconhecer nossos próprios preconceitos e fazer da diversidade não apenas um discurso, mas uma prática diária — dentro das casas noturnas, nas redes sociais, nas rodas de amigos e, sobretudo, dentro de nós.