Um episódio marcante ocorreu em julho de 2024, quando uma Ferrari 458, avaliada em mais de R$ 2 milhões, foi guinchada em plena Avenida São Paulo, um dos pontos mais movimentados da cidade. O superesportivo estava estacionado de forma irregular: sobre a faixa de pedestres e ocupando uma vaga destinada a pessoas com deficiência. O desrespeito por si só já seria motivo de indignação, mas a situação foi agravada ao se descobrir que o veículo acumulava mais de R$ 8 mil em multas e débitos de licenciamento.
A imagem do carro sendo rebocado viralizou nas redes sociais, dividindo opiniões. Para alguns, foi um ato exemplar por parte da Secretaria de Mobilidade Urbana. Para outros, apenas mais uma prova de que muitos em Maringá preferem parecer do que ser.
O secretário Gilberto Purpur foi direto na ocasião: “O valor do carro não isenta ninguém de cumprir as leis de trânsito.” Uma frase simples, mas que atinge o cerne da questão: em Maringá, há quem acredite que o dinheiro — ou a ilusão dele — compra privilégios.
Casos como esse expõem uma realidade que vai muito além do trânsito. São empresários endividados que circulam em carros milionários, influenciadores que vivem de likes e leasing, jovens que parcelam tênis de R$ 3 mil enquanto atrasam o aluguel. A vaidade local, muitas vezes confundida com progresso, revela um vazio social sustentado pela aparência.
Não se trata de criticar quem conquista com mérito seus bens materiais, mas de questionar uma cultura que valoriza mais o que se ostenta do que o que se constrói com honestidade. A Ferrari de 2024 talvez seja apenas um exemplo entre tantos outros. Mas ela escancarou uma verdade incômoda: Maringá, por trás de seus espelhos d’água e árvores bem podadas, está cada vez mais refém da imagem — e menos comprometida com a essência.