Em 2020, um escândalo envolvendo carros de luxo abalou a imagem de sofisticação e progresso que muitos tentam projetar na cidade. A Polícia Federal prendeu suspeitos e apreendeu veículos avaliados em mais de R$ 15 milhões durante uma operação que revelou um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro. Os investigados traziam superesportivos do exterior, registravam os veículos no Paraguai e os utilizavam livremente no Brasil com placas do país vizinho, driblando impostos e fiscalização.
Não eram apenas crimes financeiros. Era, sobretudo, uma demonstração de como a aparência se tornou prioridade para parte da elite local. Para esses indivíduos, mais importante do que a legalidade era manter a pose: desfilar em Lamborghinis e Porsches pelas ruas da cidade, mesmo que por trás disso houvesse um rastro de irregularidades.
O episódio de 2020 não foi um caso isolado. Ele revela uma tendência que parece persistir: a busca por status a qualquer custo. Seja através da inadimplência com o licenciamento, como no caso recente do Porsche apreendido com mais de R$ 20 mil em débitos, ou do desrespeito às leis de trânsito, como quando uma Ferrari ocupou uma vaga para deficientes e foi guinchada no centro da cidade — o padrão é o mesmo: mostrar poder, mesmo que seja só uma fachada.
Enquanto carros milionários são rebocados e flagrantes de abusos se acumulam, fica uma pergunta incômoda: até quando Maringá vai conviver com essa cultura de “ter” sem “poder”, de parecer sem realmente ser?
A cidade precisa olhar para si com mais honestidade. Não basta arborização exemplar se o espírito coletivo está adoecido pela vaidade. A verdadeira riqueza de uma cidade está na ética de seu povo — não na marca estampada no capô do carro.