Durante participação no canal PodCats, ao lado de Camila Loures, Mari Menezes e o cantor Zé Felipe, o jornalista Leo Dias fez uma declaração que tem causado indignação entre especialistas, ativistas e o público em geral: ao ouvir Zé Felipe contar — pela segunda vez em público — que perdeu a virgindade aos 12 anos com uma garota de programa, Leo respondeu com a frase:
“Na minha época isso era normal.”
A frase, dita em tom descontraído, é mais do que infeliz. É criminosa, perigosa e irresponsável, especialmente por partir de um comunicador de grande alcance e influência na mídia brasileira. O que Leo Dias fez — ainda que sem intenção — foi relativizar um ato que, segundo a legislação brasileira, configura estupro de vulnerável e exploração sexual infantil.
A legislação é clara: qualquer relação sexual com menores de 14 anos é crime de estupro de vulnerável, previsto no artigo 217-A do Código Penal. Não importa se houve consentimento. Não importa se "na época era comum". Não importa se foi com um menino.
É crime hoje e era crime ontem. A diferença é que, antes, era mais acobertado por uma cultura machista que ainda insiste em romantizar o abuso de meninos como “formação de masculinidade”.
Ao dizer que “na sua época era normal”, Leo Dias reproduz esse discurso retrógrado e perigoso, contribuindo para a banalização da violência sexual contra meninos e, pior, reforçando a ideia de que esse tipo de abuso pode ser aceito socialmente quando a vítima é do sexo masculino.
Durante o trecho do podcast, nem Leo, nem as apresentadoras Camila Loures e Mari Menezes se posicionaram contra a fala de Zé Felipe. Não houve constrangimento, denúncia, repreensão, nem uma tentativa de esclarecer que o que foi relatado é um crime.
O papel de um comunicador não é apenas entreter — é informar, responsabilizar e educar. Leo Dias é jornalista, não humorista. Sua presença em uma conversa como essa exige ética, senso de responsabilidade e respeito à lei.
O que aconteceu no PodCats não é um deslize isolado. É a repetição de uma estrutura de mídia que normaliza crimes sexuais quando a vítima é homem e a agressora, mulher.
Leo Dias poderia ter usado seu espaço para dizer: “isso que você viveu foi um abuso, e precisa ser discutido com seriedade”. Mas preferiu o caminho da nostalgia falsa — a ideia de que “na minha época era diferente”, como se o tempo absolvesse crimes contra crianças.
Essa conduta não apenas ofende vítimas reais de abuso, como reforça estigmas e silencia denúncias, perpetuando o ciclo de violência.
Ao relativizar publicamente um ato que se enquadra como estupro de vulnerável, Leo Dias pode ser enquadrado no artigo 287 do Código Penal (apologia a crime), especialmente por ser uma figura pública com milhares de seguidores, repercussão nacional e influência formadora de opinião.
A fala dele não é apenas equivocada — é perigosa. Porque ela atinge diretamente o direito de crianças e adolescentes a crescerem livres de violência e exploração.
Onde está a nota pública de retratação de Leo Dias?
O PodCats irá se posicionar oficialmente?
Os órgãos de proteção à infância irão agir diante da naturalização pública de um crime?
A imprensa seguirá silenciosa porque os envolvidos são famosos?
Leo Dias não é um cidadão comum. É jornalista, comunicador, formador de opinião. E por isso mesmo, sua fala carrega peso e responsabilidade.
Minimizar um crime contra uma criança não é nostalgia. É conivência.
A infância não é "época". É direito.