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Pós-verdade: quando a emoção pesa mais que os fatos

Nos últimos anos, um termo tem ganhado espaço no vocabulário político, midiático e acadêmico: pós-verdade. Popularizado a partir de 2016 — ano do Brexit e da eleição de Donald Trump — o conceito refere-se a situações em que fatos objetivos têm menos influência sobre a opinião pública do que apelos à emoção ou crenças pessoais. Em outras palavras, o que “parece” verdade ou “soa certo” muitas vezes vale mais do que aquilo que pode ser comprovado.

14/06/2025 às 03h21 Atualizada em 14/06/2025 às 03h26
Por: Opinião, crítica e análise
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A tirinha usa o enunciado “Penso, logo existo”, do filósofo e matemático francês René Descartes, para ironizar o conceito de pós verdade. (Shovel/ Curso 'Vaza, Falsiane'/Reprodução)
A tirinha usa o enunciado “Penso, logo existo”, do filósofo e matemático francês René Descartes, para ironizar o conceito de pós verdade. (Shovel/ Curso 'Vaza, Falsiane'/Reprodução)

O que é a pós-verdade?

A palavra surgiu como resposta a um cenário cada vez mais marcado por desinformação. Mas diferentemente da fake news tradicional, que fabrica mentiras completas e facilmente desmentíveis, a pós-verdade se alimenta de meias-verdades, distorções sutis e narrativas moldadas para confirmar crenças pré-existentes. Muitas vezes, ela se apoia em um fato real — mas tira-o do contexto, exagera, omite detalhes ou associa conclusões infundadas.

Por isso, a pós-verdade é mais perigosa que a mentira pura e simples. Ela dificulta o debate, desacredita o jornalismo profissional e mina o senso comum. É como um vírus que se disfarça de verdade para infectar a opinião pública.

Os perigos invisíveis

Uma das armadilhas da pós-verdade é que ela não parece falsa à primeira vista. Pelo contrário: muitas vezes ela confirma aquilo que o público quer acreditar, e assim se espalha com rapidez, principalmente nas redes sociais. Isso tem consequências reais: afeta eleições, polariza sociedades, legitima discursos de ódio e enfraquece instituições democráticas.

O maior risco é que a pós-verdade não se sustenta apenas na ignorância, mas também na emoção. Quando um conteúdo causa indignação, medo ou empatia, ele tende a ser compartilhado mais rapidamente — mesmo que seja impreciso. E quando o conteúdo se mistura com uma dose de verdade, torna-se ainda mais difícil combatê-lo.

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Quando há verdade, mas não toda

Um dos aspectos mais complexos da pós-verdade é que ela pode ser abafada justamente por conter elementos reais. Ao contrário das fake news clássicas, que podem ser desmentidas com uma checagem simples, a pós-verdade exige análise mais profunda. Um dado estatístico verdadeiro pode ser usado para sustentar uma conclusão incorreta. Um vídeo real pode ser recortado para mudar seu sentido. Uma frase verdadeira pode ser colocada em um novo contexto e ganhar outro significado.

Por isso, o combate à pós-verdade exige mais do que corrigir erros factuais. É preciso formar leitores críticos, estimular o pensamento analítico e fortalecer a educação midiática. Entender como uma informação é construída — e por que ela é contada de determinada forma — é tão importante quanto saber se ela é verdadeira.

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A resistência começa com o senso crítico

Em um mundo onde cada um pode ser fonte, editor e distribuidor de conteúdo, o desafio não é apenas identificar o que é falso, mas compreender por que certas verdades são contadas de maneira a manipular ou omitir. A era da pós-verdade não é o fim da verdade — mas nos exige atenção redobrada, responsabilidade coletiva e o compromisso com a complexidade dos fatos.

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