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Maisa não morreu: entenda essa notícia falsa — e perigosa

Nas últimas semanas, diversos canais no YouTube vêm divulgando notícias falsas sobre a morte de celebridades e pessoas públicas

14/06/2025 às 03h31 Atualizada em 14/06/2025 às 04h01
Por: Opinião, crítica e análise
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Foto: Divulgação / SBT
Foto: Divulgação / SBT

Os vídeos, muitas vezes com capas sensacionalistas e títulos apelativos, se espalham rapidamente, gerando desinformação, comoção desnecessária e cliques a qualquer custo. O caso de Maisa é apenas mais um entre muitos — e expõe um problema crescente na internet: a pós-verdade digital.

Diferente da mentira escancarada, a pós-verdade trabalha com manipulação emocional, meias-informações e sensacionalismo, apostando na reação imediata do público antes da checagem dos fatos. Muitas dessas produções usam fotos recentes, trechos de entrevistas antigas, ou expressões vagas como “luto no Brasil” ou “últimas palavras”, para simular uma narrativa dramática, ainda que falsa.

Esses vídeos não apenas confundem, como também desrespeitam os envolvidos e seus familiares. No caso de Maisa, a notícia da morte não apenas não era verdadeira, como também não tinha base alguma além da especulação. Mesmo assim, canais com milhares de inscritos lucram com visualizações de pessoas que clicam motivadas pela comoção ou pelo medo de perder uma “notícia urgente”.

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Esse tipo de conteúdo é uma forma agressiva de fake news, mas se encaixa com ainda mais precisão no conceito de pós-verdade, pois muitas vezes usa elementos verdadeiros para construir uma mentira maior. Um problema de saúde antigo, um boato mal explicado, ou até um silêncio momentâneo nas redes sociais são transformados em combustível para espalhar desinformação. Nesse caso, uma notícia verdadeira, mas o título da morte é falso...

Além disso, os vídeos apelam para a credibilidade emocional: a tristeza dos fãs, o choque dos títulos, e o uso de trilhas sonoras melancólicas criam uma experiência que parece real — mesmo quando não é. Essa estratégia contamina o ecossistema digital, reduz a confiança do público na informação e banaliza a morte como isca de cliques.

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É essencial que os usuários fiquem atentos a esse tipo de conteúdo. Checar a informação, buscar fontes confiáveis e denunciar canais que espalham desinformação são ações urgentes. A morte de Maisa não aconteceu — mas o dano causado pela mentira, sim. E se não houver reação coletiva, os próximos alvos já estão na fila.

Saiba mais: Pós-verdade: quando a emoção pesa mais que os fatos

Falsa credibilidade

Para proteger-se de críticas e dar aparência de legitimidade, o criador do conteúdo cita fontes confiáveis, como portais de notícias tradicionais. Mas essas fontes, na verdade, não confirmam o título sensacionalista, e sim apenas embasam a parte do vídeo que trata de um fato real — como uma entrevista, uma internação antiga, ou uma declaração pública.

O resultado é uma armadilha para o espectador: o vídeo mistura verdade e mentira, usa o nome de veículos respeitados para sustentar uma narrativa distorcida e, com isso, dribla os sistemas de denúncia das plataformas. A manchete alarmista gera o clique, a menção a fontes dá verniz de seriedade, e o conteúdo — mesmo sem confirmar a suposta tragédia — cumpre seu papel de atrair visualizações e monetização.

Esse tipo de prática é um exemplo claro de pós-verdade: a manipulação da informação em que o apelo emocional e a confirmação de crenças têm mais peso do que os fatos verificáveis. O vídeo não chega a mentir abertamente em seu conteúdo, mas constrói uma mentira no título, aproveitando-se de um contexto real para confundir e comover.

A estratégia é eficaz porque explora a confiança do público em veículos jornalísticos conhecidos, mesmo que esses veículos nunca tenham publicado o que o título do vídeo sugere. A verdade vira escudo para a mentira, e o público, em sua maioria, não lê a matéria original da fonte citada, confiando apenas no resumo enviesado do youtuber.

Mais do que sensacionalismo barato, essa prática enfraquece o jornalismo sério, normaliza a desinformação e banaliza a morte ou sofrimento de figuras públicas, transformando tragédias inventadas em ferramenta de lucro.

Diante disso, é fundamental que os espectadores adotem uma postura crítica: não basta assistir ao vídeo, é preciso conferir a fonte citada, verificar se o conteúdo bate com o título, e não compartilhar materiais que induzem ao erro. A mentira disfarçada de verdade é mais difícil de combater — mas também mais urgente.

Perigos do título, já que ele passou a valer mais do que o conteúdo

Essa tendência tem se tornado perigosa, especialmente nas redes sociais e no YouTube, onde manchetes sensacionalistas manipulam o engajamento e moldam percepções públicas — mesmo que o corpo do conteúdo diga outra coisa.

Um estudo conduzido pelo jornalista e pesquisador Michel Hajime aponta que a maioria das pessoas — incluindo profissionais da comunicação — lê apenas o título antes de formar opinião ou compartilhar uma notícia. Essa prática, somada ao fenômeno da pós-verdade, cria um ambiente de desinformação em que títulos mentirosos ou distorcidos ganham mais força do que os fatos reais.

Ao mesmo tempo, pesquisas internacionais revelam um dado alarmante: pela primeira vez, uma nova geração apresenta, em média, um QI inferior ao de seus pais. A queda está associada, entre outros fatores, à mudança de hábitos cognitivos — como a leitura superficial, a atenção fragmentada e a dificuldade de análise crítica. Isso reforça o risco do consumo passivo e acrítico de manchetes manipuladas.

Canais no YouTube têm explorado esse comportamento, publicando vídeos com títulos falsos ou exagerados — como notícias de mortes inexistentes — enquanto o conteúdo trata de outro assunto. A estratégia funciona porque a maioria dos usuários não assiste ao vídeo até o fim, nem confere as fontes citadas. Basta o impacto emocional do título para que a informação falsa se consolide.

O perigo está no ciclo de normalização. Quando títulos enganosos passam a ser tolerados ou ignorados, mesmo por quem reconhece o erro, cria-se uma cultura de superficialidade, onde a verdade factual perde espaço para narrativas construídas com base em cliques e algoritmos.

O alerta é claro: ler é mais do que passar os olhos. E num cenário onde o título mente e o público aceita, a verdade pode desaparecer mesmo estando presente.

Cuidado! Ao compartilhar você também comete crime...

1. Não existe uma lei única chamada "Lei das Fake News", mas várias leis podem ser aplicadas:

  • Calúnia, difamação ou injúria (Código Penal) – se a notícia falsa ofende a honra de alguém, o autor e quem compartilha pode ser processado.

  • Falsa comunicação de crime (Art. 340 do Código Penal) – divulgar uma mentira como se fosse denúncia real é crime com pena de 1 a 6 meses de detenção.

  • Crimes contra a fé pública (Art. 299) – incluir informações falsas em documentos ou dados oficiais.

  • Crime contra a paz pública (Art. 41 da Lei de Contravenções Penais) – divulgar boatos que causem alarme público.

2. Quem compartilha também pode ser responsabilizado

Se ficar comprovado que o compartilhamento foi feito com consciência da falsidade, a pessoa pode responder civil e criminalmente. Mesmo sem intenção, pode ser processada por danos morais ou materiais.

3. Se for em ano eleitoral, a pena pode ser mais grave

A legislação eleitoral (Lei 9.504/1997 e Lei 14.192/2021) pune com reclusão e multa a divulgação de fake news para afetar candidatos ou o resultado das eleições.

  • Sim, é crime, dependendo do caso.

  • Quem compartilha também pode ser punido, especialmente se for intencional ou causar prejuízos.

  • O risco é maior ainda em temas sensíveis como saúde pública, segurança e política.

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