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Dia dos namorados foi cruel para muitos e ainda terá reflexos para muitas pessoas

“Colecionadores de nudes”: o crime dos aplicativos de namoro que agora mostra o “rosto”

14/06/2025 às 11h37 Atualizada em 14/06/2025 às 11h56
Por: Opinião, crítica e análise
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Imagem ilustrativa - Foto: Designi
Imagem ilustrativa - Foto: Designi

Um comportamento antes velado começa a emergir à luz do debate público. A prática de "colecionar nudes" – imagens íntimas de pessoas obtidas via aplicativos de relacionamento – deixou de ser um rumor e passou a ser um problema real, grave e criminoso. Denúncias apontam que essas imagens estão sendo armazenadas e compartilhadas de forma organizada, inclusive com legendas humilhantes e acusações de infidelidade, como: “mulher casada traindo” ou “homem casado com fetiche gay”.

A prática, embora muitas vezes tratada com ironia ou descrença nas redes sociais, constitui crime no Brasil. De acordo com o Código Penal Brasileiro, a divulgação de imagens íntimas sem consentimento, mesmo que originalmente enviadas pela própria vítima, é enquadrada na Lei 13.718/2018, conhecida como Lei da Vingança Pornô, podendo acarretar pena de 1 a 5 anos de reclusão, além de multa. A lei considera agravantes quando o autor se beneficia da intimidade da vítima ou quando há ameaça, extorsão, ou divulgação em ambientes públicos como redes sociais ou sites pornográficos.

Mais alarmante ainda é o fato de que, segundo denúncias recebidas por nossa produção, já existe na internet um arquivo organizado contendo centenas de imagens, com descrições e comentários sobre os envolvidos. Essa base de dados anônima expõe não apenas a intimidade física, mas também particularidades da vida pessoal das vítimas – como fetiches, preferências sexuais e até comportamentos íntimos descritos com requintes de crueldade. O conteúdo revela uma espécie de "catálogo da vergonha" produzido por indivíduos que, além de criminosos, parecem motivados pelo sadismo e pela necessidade de controle.

De acordo com dados da SaferNet Brasil, só em 2023, foram registrados mais de 38 mil casos de vazamentos de imagens íntimas no país, número que representa apenas os casos denunciados. Especialistas indicam que a subnotificação é elevada, especialmente em cidades do interior, onde o medo de exposição social inibe vítimas de procurar as autoridades.

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Além disso, há um novo agravante: o golpe do vazamento. Nossa produção apurou que vítimas estão sendo abordadas por golpistas que exigem quantias em dinheiro para não divulgar as imagens. O crime, que mistura chantagem e estelionato, configura uma forma cruel de exploração emocional. Segundo o artigo 158 do Código Penal, o crime de extorsão pode levar à pena de 4 a 10 anos de prisão, além de multa.

Importante destacar que há duas frentes criminosas atuando:

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  1. A dos “colecionadores”, que alimentam bancos de dados de fotos íntimas;

  2. E a dos estelionatários, que se aproveitam do pânico das vítimas para lucrar com ameaças.

Em ambos os casos, as vítimas sofrem impactos psicológicos severos – ansiedade, depressão, e até ideias suicidas são comuns após episódios de vazamento. A exposição não autorizada da intimidade é, para muitos, uma forma moderna de linchamento público.

A população precisa ficar atenta.

  • Evite enviar imagens íntimas a desconhecidos.

  • Desconfie de perfis insistentes, que coletam informações ou pedem detalhes incomuns.

  • Em caso de vazamento ou ameaça, procure imediatamente a Delegacia Cibernética ou a Polícia Civil.

  • Registre boletim de ocorrência, preserve provas e, se possível, procure apoio psicológico.

A banalização do compartilhamento de nudes se tornou terreno fértil para crimes digitais. É hora de a sociedade maringaense encarar o problema com seriedade: o que para alguns parece brincadeira, para outros é destruição de uma vida inteira.

Em breve, publicaremos detalhes sobre os golpistas envolvidos nas chantagens e extorsões relacionadas ao caso.

Infância em risco: redes sociais e aplicativos de namoro são armadilhas para menores

O acesso à internet transformou a forma como nos comunicamos, aprendemos e nos divertimos. No entanto, essa revolução digital tem um lado obscuro que muitos pais ainda subestimam: o uso de redes sociais e aplicativos de relacionamento por crianças e adolescentes, muitas vezes sem qualquer supervisão ou preparo emocional. O alerta não é novo, mas a urgência é crescente.

Apesar de plataformas como Instagram, TikTok, Facebook e WhatsApp exigirem idade mínima de 13 anos, e aplicativos de namoro como Tinder, Badoo e Grindr exigirem no mínimo 18 anos, milhares de menores estão acessando esses espaços todos os dias. A idade declarada? Falsa. A fiscalização? Quase inexistente.

Riscos reais, danos duradouros

O que parece inocente na superfície, pode expor os jovens a pedofilia, aliciamento, pornografia, extorsão sexual (sextorsão) e bullying virtual. Segundo dados do relatório anual da SaferNet Brasil, só em 2023, foram mais de 70 mil denúncias de crimes envolvendo abuso e exploração sexual infantil na internet. Em muitos desses casos, o primeiro contato entre a vítima e o agressor se deu por redes sociais ou aplicativos de bate-papo.

Outro perigo crescente é o vazamento de fotos íntimas, muitas vezes feitas por impulso, chantagem emocional ou inocência. A chamada “vingança pornô” ou “exposição de nudes” já atinge adolescentes e pré-adolescentes no Brasil inteiro, com consequências emocionais devastadoras, como ansiedade, depressão e ideação suicida.

O que diz a lei

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no artigo 241-D, considera crime aliciar, assediar, instigar ou constranger menor de 18 anos, com o uso da internet ou qualquer outro meio digital, com o intuito de praticar atos libidinosos. A pena pode variar de 1 a 3 anos de reclusão, podendo ser aumentada se houver agravantes.

Além disso, quando o conteúdo íntimo envolve menores de idade, a legislação trata as imagens como pornografia infantil – um crime gravíssimo, inafiançável, com penas que podem chegar a 8 anos de prisão.

A falsa sensação de anonimato

Um dos fatores que contribuem para a vulnerabilidade dos menores é o aparente anonimato das plataformas digitais. Crianças com 11, 12 ou 13 anos se fazem passar por adultos, postam conteúdos sensuais, buscam curtidas, validação social e, em muitos casos, iniciam conversas com desconhecidos. O que muitos pais desconhecem é que esses contatos podem evoluir rapidamente para trocas de fotos, vídeos ou até mesmo encontros presenciais.

Além disso, alguns aplicativos de namoro nem mesmo exigem verificação de identidade, o que facilita ainda mais o acesso irregular por menores.

O papel dos pais e responsáveis

A responsabilidade legal e moral da proteção da criança no ambiente digital é dos pais e responsáveis legais. Não basta entregar um celular ou permitir acesso à internet: é necessário acompanhar, educar, orientar e estabelecer limites.

Recomendações essenciais:

  • Verifique a idade mínima de cada aplicativo ou rede social.

  • Utilize ferramentas de controle parental para limitar conteúdos e acessos.

  • Converse abertamente com os filhos sobre os riscos da exposição online.

  • Esteja presente digitalmente: acompanhe perfis, amigos e interações.

  • Em caso de suspeita, não hesite em procurar ajuda especializada (Conselho Tutelar, Polícia Civil, Delegacia da Criança e do Adolescente, ou a Delegacia Cibernética).

Um chamado à consciência

A ideia de que “meu filho sabe o que está fazendo” ou “isso só acontece com os outros” pode ser a porta de entrada para um trauma. Crianças e adolescentes não têm estrutura emocional ou maturidade suficiente para lidar com predadores digitais, manipulação psicológica ou chantagem sexual.

Enquanto muitos pais ignoram ou relativizam o perigo, o mundo online avança velozmente, sem filtros ou limites claros. Maringá, assim como outras cidades brasileiras, já enfrenta casos concretos de abuso, exposição e violência digital contra menores.

A infância não pode ser negociada com algoritmos. Proteja antes que seja tarde.

O Marco da Lei  rose Leonel: uma nova era contra a "Pornografia  de Revachance"

A trajetória da jornalista Rose Leonel tornou-se histórica. Em 2005, após o término de um relacionamento, imagens íntimas suas foram divulgadas sem consentimento pelo ex-companheiro, distribuídas por e-mail, CDs e panfletos em condomínios, além de publicações em sites internacionais.

Rose Leonel  no Senado durante a CCJ que aprovou a criminalização do "Porno devingança"

Impactos devastadores

  • Dano social e emocional: Rose foi vítima de “assassinato moral” — perdeu o emprego, sofreu humilhações públicas e quase teve a guarda dos filhos comprometida .

  • Trauma profundo: ela relatou depressão, pensamento suicida e a sensação de viver sob humilhação permanente: “é como se alguém lhe desse uma facada e a cicatriz nunca se fechasse”.

  • Consequências familiares: um dos filhos precisou morar no exterior, enquanto a filha era vítima de bullying na escola.

Da impunidade à lei

Antes de 2018, o crime era tratado como difamação ou injúria, com penas leves e sem medidas adequadas para proteção das vítimas. A experiência de Rose impulsionou a criação da chamada Lei Rose Leonel (Lei 13.771/2018), que alterou a Lei Maria da Penha para incluir a divulgação de imagens íntimas como forma de violência de gênero.

Em 24 de setembro de 2018, novas regras foram incorporadas ao Código Penal (art. 218‑C), tipificando e punindo com rigor a divulgação de cenas de nudez ou sexo sem consentimento.

Um perigo contínuo

Especialistas alertam que a pornografia de vingança não é apenas um evento: trata-se de um processo violento, constante e estigmatizante, cujos danos são percebidos a cada divulgação, compartilhamento ou reexposição do material.

Repercussões psicológicas

  • Transtornos mentais: sintomas como ansiedade, depressão e ideação suicida são frequentes em vítimas .

  • Perda de identidade e autoestima: a exposição causa uma sensação de agressão contínua, fragilizando a percepção de dignidade e segurança .

  • Isolamento social e exclusão: vítimas relatam ostracismo na comunidade, boicote no trabalho e impossibilidade de retomar a vida antes do crime.

O caso de Rose Leonel como protagonista, é um marco nacional. Ao dar nome a uma lei, Rose transformou sua dor em luta e mudança legislativa. A Lei Rose Leonel representa um divisor de águas, destacando que o compartilhamento de material íntimo é crime, violência de gênero e pode ter consequências psicológicas e sociais profundas.

A experiência da tragédia da tragédia transformada em lei reforça a importância de políticas de combate, prevenção e apoio psicológico às vítimas — e serve de alerta para toda a sociedade: exposição não consentida não é “brincadeira” — é violenta, criminosa e pode ser fatal.

Michel Hajime: do silêncio ao ativismo contra a violência digital e os abusos na mídia

O jornalista e pesquisador Michel Hajime, conhecido por sua atuação ao lado da jornalista Rose Leonel, desenvolveu uma investigação inédita sobre a desigualdade de gênero na repercussão de vazamentos de imagens íntimas. A pesquisa aponta um padrão alarmante: mulheres vítimas da exposição têm suas vidas destruídas socialmente, enquanto homens, em situações semelhantes, muitas vezes ganham visibilidade, fama e lucro.

Michel Hajime, jornalista e professor universitário, teve suas pesquisas interrompidas para tratar de crise de pânico pelos crimes que  sofreu há 20 anos, mas sintomas só apareceram agora.

O estudo, ainda não publicado por completo, evidencia como o julgamento moral pesa de forma desigual, reforçando a misoginia estrutural presente na cultura digital. Enquanto as mulheres são taxadas, humilhadas e marginalizadas, homens viralizam, monetizam e são até mesmo admirados por episódios semelhantes.

Michel Hajime, que atualmente se encontra afastado para cuidar de sua saúde mental, revelou estar enfrentando as consequências tardias de um abuso sexual sofrido na adolescência, dentro de uma emissora de televisão. O trauma, ocultado por anos, gerou crises de pânico que só se manifestaram duas décadas depois.

Mesmo em processo de recuperação, o jornalista transformou sua dor em mobilização, e agora atua ativamente no combate aos crimes de abuso sexual e à violência digital. Inspirado pela trajetória de sua amiga e colega Rose Leonel, Hajime também tornou-se um ativista pela dignidade e proteção das vítimas, fortalecendo o movimento por justiça e responsabilidade na mídia e no ambiente digital.

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