No entanto, quase um ano depois, ele ainda recebe boletos por e-mail, mala direta com cobranças e notificações em seu banco digital. Mesmo após o prazo informado ter expirado, não houve qualquer encerramento automático da contribuição, nem comunicação clara sobre renovação ou cancelamento. A situação levanta dúvidas sobre a transparência e a ética nas abordagens de arrecadação de grandes organizações não governamentais.
"Eu doei acreditando que era por um período definido. Agora me sinto enganado. Isso desmotiva qualquer pessoa a querer ajudar novamente", relata o professor, que prefere não ser identificado.
A prática não é exclusiva do Greenpeace. Outras grandes ONGs também têm adotado métodos semelhantes, baseando-se em contratos automáticos de renovação, que nem sempre são esclarecidos durante a abordagem inicial. Muitas vezes, a anulação da cobrança exige que o doador ligue para centrais de atendimento, passe por diversos setores e enfrente processos burocráticos que parecem mais desestimuladores do que informativos.
Além disso, o uso contínuo de dados bancários e o envio insistente de boletos levantam questões relacionadas à privacidade e à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), especialmente quando não há consentimento explícito para a continuidade da comunicação.
A ironia é que, ao tentar mobilizar a população em prol de causas nobres como a preservação ambiental, essas ONGs podem acabar produzindo o efeito oposto: a aversão ao engajamento. Para muitos, como o professor, o episódio serviu de alerta. "Quero ajudar, mas não às custas de sentir que caí num contrato disfarçado de solidariedade."
O caso expõe a necessidade de revisão das estratégias de arrecadação de recursos e da relação de confiança entre as organizações da sociedade civil e o público. Transparência, ética e consentimento são valores tão fundamentais quanto as causas que essas instituições dizem defender.