Em tempos de crise climática, colapso ambiental e digitalização crescente, uma cena parece destoar — e muito — dos discursos ambientalistas: o recebimento de correspondência física enviada por uma das ONGs mais conhecidas do mundo, o Greenpeace. Sim, a mesma organização que defende florestas, combate o desmatamento e promove campanhas contra o uso indiscriminado de recursos naturais, continua enviando malas diretas impressas a seus apoiadores.
As cartas, normalmente acompanhadas de boletos ou pedidos de renovação de doações, vêm com o selo de “papel misto” ou “papel de manejo florestal responsável”. Em teoria, uma tentativa de minimizar os impactos. Na prática, uma contradição.
Papel é papel — e vem de árvore
A crítica aqui não é à causa ambiental em si, mas à forma como ela é comunicada. Quando uma ONG que prega a preservação da Amazônia envia milhares de correspondências físicas, mês após mês, ela está participando, mesmo que de forma indireta e justificada, da cadeia de consumo de celulose. Por mais “sustentável” que se diga o papel, ele demanda plantio, corte, energia para fabricação, transporte e, em muitos casos, descarte inadequado.
É o clássico caso de “faça o que eu digo, mas não o que eu faço”.
Digitalizar é possível — e necessário
A ironia se agrava quando se nota que a mesma organização dispõe de uma plataforma digital ampla, com website estruturado, sistema de pagamentos online, base de e-mails e redes sociais ativas. Ou seja: os meios tecnológicos para se comunicar de forma limpa e eficiente estão disponíveis — só não são priorizados.
Além disso, muitos dos apoiadores do Greenpeace são pessoas jovens, conscientes e digitalizadas, que optaram por doar por meios virtuais justamente por desejarem agilidade e menor impacto ambiental. Receber, meses depois, uma carta impressa com pedido de renovação é não apenas um retrocesso comunicacional, mas uma afronta ética ao que se prometeu defender.
Contradições que minam a confiança
O resultado? Descrença, afastamento e resistência em contribuir novamente. Se uma organização ambiental global continua a recorrer à produção de lixo físico para pedir dinheiro, que exemplo se está dando a empresas, governos e cidadãos?
ONGs, especialmente as que defendem causas ambientais, precisam revisar urgentemente suas práticas institucionais. Coerência não é um detalhe — é a base da credibilidade. E não há manejo florestal “responsável” que compense a incoerência entre o discurso e a prática.
Afinal, como convencer o mundo a proteger árvores, se as mesmas são cortadas para imprimir pedidos de ajuda em nome delas?