Na verdade, tratava-se de uma fake news, estrategicamente construída para fazer alusão a uma polêmica extracampo envolvendo o craque brasileiro. Segundo relatos que ganharam repercussão nas redes e em sites de fofoca, Neymar se envolveu com duas garotas de programa, uma das quais revelou, em tom jocoso, que o atleta “ejacula muito rápido”. A informação, por si só de caráter íntimo e sensacionalista, foi usada como combustível para uma enxurrada de piadas de gosto duvidoso, memes e conteúdos falsos, como a citada “notícia” sobre sua velocidade.
Esse episódio não é apenas uma anedota constrangedora para Neymar. Ele expõe um problema crônico do ecossistema digital: o uso de fake news e do sensacionalismo para alimentar o ciclo de entretenimento raso à custa da reputação alheia. Misturar vida pessoal com desempenho esportivo para criar manchetes cômicas pode gerar engajamento, mas também contribui para a desinformação e para o enfraquecimento da credibilidade do jornalismo esportivo.
Além disso, ao transformar um relato íntimo — cuja veracidade nem pode ser verificada — em motivo de escárnio público, essa cobertura contribui para a normalização do machismo, do bullying virtual e da invasão de privacidade. A velocidade de Neymar em campo, que já foi tema de estudos sérios com medições oficiais (como as da FIFA), não tem qualquer relação com sua vida sexual. Reduzi-lo a uma piada de duplo sentido é desrespeitoso tanto com ele quanto com o público que merece informação de qualidade.
Veicular ou compartilhar esse tipo de conteúdo sob o pretexto de “humor” ou “entretenimento” é, na prática, colaborar com a disseminação de desinformação e com a cultura do linchamento digital. Neymar, como figura pública, certamente está acostumado a críticas e exposição, mas há uma linha ética que não deveria ser ultrapassada — especialmente por meios de comunicação que se dizem comprometidos com a verdade.
A crítica não isenta Neymar de possíveis atitudes questionáveis em sua vida pessoal, mas é importante lembrar que fama não equivale à perda total de dignidade. Que tipo de sociedade estamos alimentando quando uma fake news como essa tem mais engajamento do que uma análise séria sobre a performance de um dos maiores jogadores da história recente do futebol?
A viralização da falsa notícia de que Neymar seria o “mais rápido do mundo” serve de exemplo claro de como a manipulação da informação, combinada com humor raso e voyeurismo digital, pode deformar a percepção pública sobre uma figura conhecida. É papel da imprensa, dos influenciadores e de cada usuário da internet combater esse tipo de prática, exigindo mais respeito, mais responsabilidade e menos risos fáceis às custas de mentiras.