Com um discurso centrado na ideia de impedir a "doutrinação ideológica" nas escolas, o movimento busca regular o conteúdo ministrado nas instituições de ensino, proibindo o uso do ambiente escolar para influenciar a formação política dos alunos. No entanto, ao mesmo tempo em que se defende a "neutralidade" nas escolas, surge uma outra questão: como conciliar esse ideal com a importância de debater política de maneira aberta e democrática dentro do espaço escolar?
O conceito de uma "Escola sem Política", proposto por alguns como resposta ao movimento "Escola sem Partido", sugere a exclusão de discussões políticas do currículo escolar. No entanto, essa proposta ignora o papel fundamental da educação na formação de cidadãos críticos e conscientes, preparados para participar de maneira ativa na sociedade. Quando se trata de política, a questão não é a exclusão, mas sim a forma como ela é abordada.
A educação não pode ser desvinculada da política. O debate político nas escolas é essencial para que os estudantes compreendam o funcionamento das instituições democráticas, as questões sociais e as transformações que acontecem em sua sociedade. Em um país como o Brasil, onde questões de direitos humanos, desigualdade social, racismo e justiça estão constantemente em pauta, é necessário que as escolas formem cidadãos capazes de refletir criticamente sobre os problemas políticos que afetam seu cotidiano.
Política não é apenas um assunto de partidos. A política está presente na vida de todos os cidadãos, seja nas leis que regulamentam a sociedade, nas políticas públicas que afetam a educação e a saúde, ou nas questões de justiça social e econômica. Para formar indivíduos conscientes e participativos, a escola precisa preparar os alunos para entender e se posicionar sobre esses temas.
É claro que existe uma linha tênue entre ensinar política e fazer doutrinação partidária. O problema não é discutir política nas escolas, mas sim quando essa discussão se transforma em uma tentativa de manipulação ideológica. Doutrinação partidária, que visa impor uma visão única sobre determinado tema, seja ele de esquerda ou de direita, é algo que deve ser evitado a todo custo.
O movimento "Escola sem Partido" surge justamente da crítica à doutrinação ideológica, que muitos percebem como um problema real nas escolas. No entanto, muitos dos críticos ao movimento utilizam o termo "doutrinação" de forma ampla, acusando os professores de serem tendenciosos em suas opiniões políticas. A questão central aqui é que, em vez de proibir discussões políticas, é necessário ensinar aos alunos a habilidade de analisar as diversas perspectivas, a partir de fontes confiáveis e argumentação fundamentada.
Curiosamente, os mesmos que se opõem ao movimento "Escola sem Partido" são frequentemente os que utilizam o poder público para promover suas próprias agendas políticas, fazendo uso do espaço escolar e da educação para manipular jovens e forjar opiniões que atendem aos seus interesses partidários. Essa postura não é apenas contraditória, mas prejudicial para a sociedade como um todo, uma vez que enfraquece a capacidade crítica dos alunos, que acabam sendo usados como peças em um jogo político de longo prazo.
Ao invés de proteger a educação de influências políticas, o que deve ser combatido é o uso do poder público e da escola como ferramenta de manipulação partidária. Os alunos precisam ser preparados para questionar, debater e tomar decisões fundamentadas, e isso só pode ser feito quando se oferece uma educação plural, democrática e sem viés partidário.
Em vez de uma escola sem política, precisamos de uma educação que ensine a política de maneira crítica e responsável. A escola deve ser um espaço de diálogo, onde todas as correntes de pensamento sejam discutidas de forma aberta e respeitosa, sem que se favoreça ou se demonize nenhum partido ou ideologia. Professores devem ser formadores de cidadãos críticos, capazes de compreender as complexidades do mundo político, ao invés de ser influenciadores de ideologias partidárias.
As escolas devem ensinar os alunos a construir suas próprias opiniões, baseadas em argumentos, fatos e uma visão ampla da sociedade, para que possam participar de forma consciente da vida política e democrática do país. Isso implica em educar para a cidadania, para a ética e para o respeito à pluralidade de ideias, sem que isso signifique forçar uma visão única sobre as questões sociais e políticas.
A verdadeira questão não é se a escola deve ou não ser "sem política", mas sim como a política deve ser abordada nas escolas. O movimento "Escola sem Partido" é legítimo ao questionar a doutrinação ideológica, mas a solução não está em excluir a política do espaço escolar. Ao contrário, deve-se buscar uma educação política que capacite os jovens a entender e a participar da política de maneira crítica, sem serem manipulados por interesses partidários. Para isso, é necessário um ambiente educacional que valorize o pluralismo de ideias, sem permitir a manipulação partidária ou a imposição de visões ideológicas.
A escola precisa ser um local de formação de cidadãos, não de servidores partidários. Ensinar a política de forma consciente é o primeiro passo para garantir uma sociedade verdadeiramente democrática e plural.