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Cursos Tecnólogos: a face oculta da expansão do ensino superior no Brasil

Nos últimos 20 anos, o número de brasileiros com diploma de ensino superior cresceu exponencialmente. À primeira vista, um sinal de avanço. Mas, por trás dos dados alardeados por governos e instituições privadas, esconde-se uma realidade menos nobre: a divisão estratégica dos cursos tradicionais, como Administração, em formações mais curtas e simplificadas — os chamados cursos tecnólogos

03/05/2025 às 18h44 Atualizada em 03/05/2025 às 19h47
Por: Rede Geração
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Criados com o discurso de modernização e atendimento às necessidades do mercado, esses cursos foram consolidados em 2001, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, com o Parecer CNE/CES nº 436/2001. Na prática, essa manobra passou a oferecer diplomas de graduação com apenas 2 ou 3 anos de duração, sob títulos como Gestão de Recursos Humanos, Marketing, Logística e tantos outros derivados do antigo e amplo curso de Administração.

Formação mais rápida, ensino mais fraco

A justificativa era atender a uma população que, por diversos motivos, não conseguia concluir um curso de bacharelado com duração de 4 anos ou mais. Mas, para muitos especialistas, essa divisão serviu como uma estratégia de manipulação estatística: ao fragmentar um curso tradicional em diversos tecnólogos, o governo passou a exibir números crescentes de formandos — como se o Brasil tivesse, de fato, elevado a qualidade e o acesso ao ensino superior.

“O objetivo não era melhorar a educação, e sim inflar artificialmente os dados para mostrar ao eleitorado que mais brasileiros estavam se formando”, aponta um professor de políticas educacionais, que prefere não se identificar. “Criou-se um diploma mais fácil de obter, mas com conteúdo limitado, carga horária reduzida e reconhecimento precário no mercado.”

Tecnólogos: graduação de segunda classe?

Embora os tecnólogos sejam legalmente reconhecidos como cursos de graduação, o preconceito é evidente. Empresas muitas vezes não os consideram no mesmo nível de um bacharelado. Concursos públicos impõem restrições e, em certos casos, o próprio mercado exige formações mais robustas para cargos de liderança.

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Além disso, o avanço do Ensino a Distância (EAD) agravou a situação. A maior parte dos cursos tecnólogos hoje é ofertada online, com apostilas genéricas, videoaulas reaproveitadas e correções automatizadas. O formato privilegia o lucro das instituições, mas prejudica a formação crítica e prática dos alunos.

Educação virou estatística eleitoral

O modelo atende perfeitamente ao sistema: o governo divulga crescimento no acesso à universidade, as faculdades privadas lucram com cursos de baixo custo, e o aluno — agora tratado como cliente — recebe um diploma que muitas vezes não garante inserção digna no mercado de trabalho.

É uma engrenagem que vende a ilusão do acesso, mas entrega uma formação fragilizada. A verdadeira universalização do ensino superior exige mais do que números em planilhas: demanda investimento, valorização do professor, qualidade de conteúdo e respeito à inteligência e ao futuro dos estudantes.

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