Criados com o discurso de modernização e atendimento às necessidades do mercado, esses cursos foram consolidados em 2001, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, com o Parecer CNE/CES nº 436/2001. Na prática, essa manobra passou a oferecer diplomas de graduação com apenas 2 ou 3 anos de duração, sob títulos como Gestão de Recursos Humanos, Marketing, Logística e tantos outros derivados do antigo e amplo curso de Administração.
A justificativa era atender a uma população que, por diversos motivos, não conseguia concluir um curso de bacharelado com duração de 4 anos ou mais. Mas, para muitos especialistas, essa divisão serviu como uma estratégia de manipulação estatística: ao fragmentar um curso tradicional em diversos tecnólogos, o governo passou a exibir números crescentes de formandos — como se o Brasil tivesse, de fato, elevado a qualidade e o acesso ao ensino superior.
“O objetivo não era melhorar a educação, e sim inflar artificialmente os dados para mostrar ao eleitorado que mais brasileiros estavam se formando”, aponta um professor de políticas educacionais, que prefere não se identificar. “Criou-se um diploma mais fácil de obter, mas com conteúdo limitado, carga horária reduzida e reconhecimento precário no mercado.”
Embora os tecnólogos sejam legalmente reconhecidos como cursos de graduação, o preconceito é evidente. Empresas muitas vezes não os consideram no mesmo nível de um bacharelado. Concursos públicos impõem restrições e, em certos casos, o próprio mercado exige formações mais robustas para cargos de liderança.
Além disso, o avanço do Ensino a Distância (EAD) agravou a situação. A maior parte dos cursos tecnólogos hoje é ofertada online, com apostilas genéricas, videoaulas reaproveitadas e correções automatizadas. O formato privilegia o lucro das instituições, mas prejudica a formação crítica e prática dos alunos.
O modelo atende perfeitamente ao sistema: o governo divulga crescimento no acesso à universidade, as faculdades privadas lucram com cursos de baixo custo, e o aluno — agora tratado como cliente — recebe um diploma que muitas vezes não garante inserção digna no mercado de trabalho.
É uma engrenagem que vende a ilusão do acesso, mas entrega uma formação fragilizada. A verdadeira universalização do ensino superior exige mais do que números em planilhas: demanda investimento, valorização do professor, qualidade de conteúdo e respeito à inteligência e ao futuro dos estudantes.