Ao longo das últimas décadas, vimos casos de corrupção envolvendo partidos tanto de esquerda quanto de direita. No entanto, o que causa espanto não é apenas o crime em si, mas a maneira como setores militantes reagem: negam os fatos, atacam a imprensa, relativizam as denúncias e transformam corruptos em mártires. A crítica que deveria unir a sociedade contra o abuso de poder se perde em trincheiras ideológicas.
Outro ponto alarmante é a forma como alguns políticos assumem uma postura de donos do Estado. Há quem administre recursos públicos como se fossem de propriedade pessoal, direcionando verbas, nomeando aliados e perseguindo opositores — tudo sob o manto de uma suposta “legitimidade eleitoral”. Isso não é democracia, é autoritarismo disfarçado de mandato.
Além disso, existe um padrão recorrente no qual autoridades policiais, ao se tornarem celebridades políticas, ultrapassam os limites de suas funções constitucionais, confundindo justiça com palanque. Quando um agente público acredita que pode tudo — da repressão à gestão orçamentária — o equilíbrio entre os Poderes fica em risco.
É urgente repensar o papel do cidadão nesse ciclo. Defender político como se fosse time de futebol — e ignorar crimes comprovados — é abrir mão da cidadania em nome da paixão ideológica. O Brasil precisa de mais consciência e menos torcida. De mais instituições fortes e menos personalismos messiânicos.
O combate à corrupção e ao abuso de poder não pode ser seletivo. Ele deve ser ético, apartidário e baseado em fatos. Caso contrário, seguiremos reféns — não apenas de políticos, mas de nossas próprias ilusões.