A separação foi anunciada em meio à convocação de Virginia Fonseca para prestar esclarecimentos na CPI dos Jogos de Azar. A influenciadora é uma das celebridades que, nos últimos anos, emprestaram sua imagem a plataformas de apostas online — muitas das quais operam em zonas cinzentas da legalidade.
Ao ser chamada para depor, Virginia se viu no centro de um turbilhão político e jurídico. A investigação pode resultar em sanções financeiras severas a quem for considerado cúmplice na promoção irregular desses jogos. E é exatamente aí que a separação conjugal entra como um possível movimento estratégico.
Segundo especialistas em direito de família e planejamento patrimonial, um divórcio pode ser utilizado como mecanismo para proteger parte dos bens do casal. Em um casamento sob comunhão parcial ou universal de bens, metade do patrimônio adquirido durante a união pertence legalmente a cada cônjuge. Ao se separar, formalmente, cada um passa a responder juridicamente apenas pelo que lhe cabe — o que, em caso de uma indenização judicial, poderia evitar a penhora de todo o montante.
Na prática, isso significa que, caso Virginia venha a ser responsabilizada judicialmente e precise pagar indenizações elevadas, somente os bens em seu nome estariam em risco. Os 50% pertencentes a Zé Felipe, agora “ex-marido”, estariam legalmente protegidos.
A tática, conhecida nos bastidores jurídicos como "divórcio de fachada", já foi usada em outras situações de crise envolvendo grandes fortunas e investigações públicas. Trata-se de um divórcio formalizado no papel, mas que não representa um afastamento real na vida cotidiana.
Se há mesmo uma estratégia por trás da separação, ela não se limita ao campo jurídico. O timing e a forma como a notícia foi divulgada — de maneira lacônica, nas redes sociais — sugerem também uma preocupação com a gestão da imagem pública. Virginia é uma das figuras mais populares do país nas redes, com contratos milionários em publicidade e uma base de fãs devotada.
Dessa forma, transformar uma crise legal em uma narrativa pessoal — de dor, superação e empoderamento — pode ser uma forma eficaz de redirecionar a atenção do público. Afinal, a emoção engaja mais que explicações jurídicas, e a figura da mulher traída ou injustiçada costuma encontrar maior acolhimento social do que a da empresária investigada por envolvimento com o jogo ilegal.
Há quem acredite que tudo não passa de uma estratégia midiática, um golpe publicitário para manter a relevância do casal (ou ex-casal) em alta nas redes e na imprensa. Outros veem no movimento uma tentativa fria e calculada de salvaguardar o império financeiro da família, frente a uma possível tempestade jurídica.
De qualquer forma, o episódio evidencia como, no Brasil de 2025, as fronteiras entre o mundo do entretenimento, o marketing digital, o direito e a política estão cada vez mais borradas. E como celebridades, influenciadores e suas equipes estão cada vez mais sofisticadas na construção — e proteção — de suas narrativas e fortunas.
Afinal, se os jogos de azar estão sendo investigados por colocar em risco o patrimônio de milhões de brasileiros, o que dizer de quem, nesse tabuleiro, sabe jogar com as regras e até com o próprio casamento?