O caso mais grave ocorreu dentro de uma sala do Departamento de Arquitetura, onde uma servidora envolvida no projeto Cuida Paraná entregou uniformes aos alunos e, ao se deparar com uma estudante gorda, disparou: “Toma, pega duas e faz uma.” A fala, carregada de desprezo e discriminação, foi testemunhada por colegas de curso e docentes, mas até o momento não gerou reação pública da reitoria da universidade.
Pior: a tentativa de silenciamento da denúncia também ocorreu dentro do campus da UEM, na Unidade de Psicologia Aplicada, onde foi realizada uma reunião surpresa, sem aviso ou pauta definida, com presença de instrutores e alunos. O tom foi de intimidação velada, apelando à “lealdade institucional” e à preservação da imagem do projeto. A coação contra o denunciante, registrada e relatada aos órgãos de controle, mostra que não se tratou de um mal-entendido isolado, mas de uma estratégia consciente de inversão de culpa e abafamento da crítica.
Veja o vídeo com os áudios da reunião:
Embora a UEM não seja diretamente responsável pela execução pedagógica do Cuida Paraná, ela cedeu sua infraestrutura, nome, legitimidade institucional e ambiente acadêmico. Ao permitir a realização do programa em seus espaços, assume corresponsabilidade política, ética e administrativa sobre o que ali ocorre. O silêncio da reitoria, até agora, equivale a uma anuência silenciosa às violências cometidas, em total desacordo com os princípios que regem a universidade pública, plural e inclusiva.
A situação se agrava quando se observa a conduta das demais entidades envolvidas. O diretor do SENAI, responsável técnico pelo curso, causou espanto ao mandar as vítimas pedirem desculpas à servidora acusada de gordofobia — a mesma que, além da agressão verbal, é vista como principal articuladora do projeto e dos erros administrativos, como a falta de EPIs obrigatórios para aulas práticas.
Veja o vídeo da denúncia: alunos em aulas práticas sem EPIs:
Em vez de acolher os denunciantes, o diretor coagiu, inverteu narrativas e desrespeitou a dignidade dos alunos, numa conduta incompatível com o discurso de formação ética e cidadã que o programa diz promover.
A reunião coercitiva e os episódios de discriminação foram formalmente denunciados ao Ministério Público do Paraná (MP-PR), e também encaminhados ao Tribunal de Contas do Estado (TCE-PR), ao Ministério Público do Trabalho (MPT), à Controladoria-Geral do Estado (CGE-PR) e ao Ministério dos Direitos Humanos.
O programa Cuida Paraná teve outras denúncias, incluindo a exposição de um aluno com transtornos mentais e cognitivos, sem qualquer acolhimento, reforçando o padrão de violência institucional e negligência por parte dos responsáveis pelo projeto.
O que poderia ser um programa exemplar de inclusão social se tornou um estudo de caso sobre abuso de poder, negligência estatal e racismo institucional contra corpos dissidentes. As ações corretivas que se esperariam — investigação interna, afastamento de servidores, retratações públicas — jamais vieram. Em seu lugar, vieram reuniões intimidadoras, silêncio institucional e blindagem dos agressores.
Num contexto em que o Cuida Paraná se apresenta como símbolo do cuidado social, o mínimo esperado seria o fornecimento de EPIs básicos e a garantia de ambientes livres de preconceito — não a naturalização da gordofobia e a repressão de denúncias.
O caso também expõe a fragilidade das parcerias entre Estado, instituições de ensino e entidades do Sistema S, que, ao serem celebradas sem critérios claros de controle, se tornam campos férteis para violências simbólicas e operacionais. Quando universidades públicas, como a UEM, cedem seus espaços sem exigir contrapartidas éticas, comprometem sua missão formadora e mancham seu legado histórico.
A responsabilidade é coletiva, mas a omissão é sempre institucional.
Repercusão do caso na política:
Na Rede Geração, praticamos um tipo de jornalismo que vai além da simples transmissão de fatos. Nosso compromisso é com o jornalismo opinativo, crítico e analítico — uma abordagem que interpreta, contextualiza e posiciona os acontecimentos dentro de um olhar social, político e ético.
Diferente do jornalismo tradicional de viés “neutro”, essa prática não se limita a “ouvir os dois lados” como única obrigação. Isso porque nem todo conflito é equilibrado, nem toda fonte tem o mesmo peso, e nem toda versão dos fatos é legítima. O jornalismo opinativo não é imparcial — ele é responsável.
Jornalismo opinativo assume uma posição diante dos fatos. Não se omite. Não normaliza injustiças. Ele denuncia, aponta caminhos e reconhece o lugar político de onde fala. A opinião é um instrumento de leitura crítica do mundo.
Jornalismo crítico questiona estruturas de poder, revela contradições, analisa contextos históricos e sociais. Ele não reproduz a fala oficial sem checar o que está por trás. Criticar é parte essencial da democracia.
Jornalismo analítico vai além da manchete: explica causas, consequências, interesses envolvidos e omissões convenientes. Ele conecta os pontos e revela o que os discursos oficiais tentam esconder.
Por isso, esse tipo de jornalismo não precisa — e muitas vezes não deve — “ouvir todas as partes” para ser legítimo. Quando há flagrante de violência, quando há documentos, vídeos, depoimentos públicos ou silêncio institucional, o que se exige é responsabilidade, não simetria artificial. Dar “voz ao outro lado” não pode significar ceder espaço para desinformação, racismo, homofobia, machismo, gordofobia, abuso de autoridade etc.
Na Rede Geração, entendemos que o jornalismo é uma ferramenta de transformação. E transformação exige posicionamento.
Nosso conteúdo é opinativo porque temos lado: o lado da justiça.
É crítico porque não aceitamos verdades prontas.
É analítico porque sabemos que o jornalismo não deve apenas contar o que aconteceu, mas explicar por que aconteceu — e para quem interessa.
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