O Carnaval, considerado a maior festa do mundo, é frequentemente celebrado com alegria, dança e música. No entanto, poucos sabem que essa festa popular brasileira, que atrai milhões de pessoas ao redor do mundo, carrega consigo raízes profundas na religião de matriz africana, especialmente na Umbanda. A festa não se limita a ser apenas uma exibição de sambas e cores, mas pode ser vista como uma grande representação de uma gira umbandista, uma cerimônia religiosa rica em simbologia, espiritualidade e rituais que, ao longo dos anos, tem sido alvo de críticas e preconceitos, especialmente no contexto de uma sociedade ainda marcada pela intolerância religiosa.
Para entender a ligação entre o desfile de carnaval e uma gira umbandista, é preciso olhar com mais atenção para os elementos que compõem o espetáculo. Cada ala, cada fantasia, cada dança e até a energia vibrante da avenida podem ser vistos como uma analogia àquilo que ocorre em um terreiro de Umbanda, onde se invoca e reverencia as entidades espirituais. Vamos destrinchar a simbologia por trás de um desfile e suas relações com a gira umbandista:
As Entidades Espirituais: No desfile, as escolas de samba frequentemente prestam homenagem a entidades e orixás da Umbanda, como Exu, Ogum, Oxum, Iemanjá, Pombagira, entre outros. Cada orixá é simbolizado por roupas, adereços e cores específicos que representam suas características, atributos e energias. As danças e os ritmos de cada ala refletem os passos e cânticos das giras, manifestações espirituais que acontecem dentro dos terreiros de Umbanda.
Os Guias e Caboclos: No desfile, os caboclos, representados por figuras com penas e adereços indígenas, representam as entidades de proteção da Umbanda, que muitas vezes se manifestam em giras para curar, proteger e guiar os fiéis. A simbologia das penas e dos bastões remete à força, à sabedoria e à conexão com as forças da natureza, elementos centrais na espiritualidade umbandista.
As Cores e Elementos Naturais: Assim como na Umbanda, onde cada orixá é associado a um elemento da natureza (água, terra, fogo, ar), os carros alegóricos e as fantasias do carnaval são compostos por cores vibrantes e detalhes que evocam a energia dos orixás. Por exemplo, a cor dourada e a água representam Oxum, a cor azul e o mar remetem a Iemanjá, e o vermelho e preto, em muitos casos, estão associados a Exu e Pombagira, entidades que são muitas vezes mal compreendidas por quem não entende a verdadeira espiritualidade da Umbanda.
A Dança e a Música: A música de samba, com seu ritmo contagiante, pode ser comparada aos pontos cantados nas giras umbandistas. Esses cânticos são essenciais para a invocação das entidades, e a dança do samba, como os passos que remetem aos rituais de cada orixá, também reflete essa relação com a espiritualidade e o poder dos elementos naturais.
A Intolerância Religiosa: Preconceito Contra a Umbanda
Apesar de todas essas referências claras e evidentes à Umbanda, o preconceito contra as religiões de matriz africana ainda é uma realidade dura no Brasil. A Umbanda, em particular, sofre com uma histórica marginalização e é frequentemente alvo de intolerância religiosa, muitas vezes confundida com práticas demoníacas ou tidas como “erradas” por aqueles que não compreendem sua essência.
Infelizmente, a religião, que tem suas raízes no respeito à natureza, na cura e na proteção espiritual, é frequentemente estigmatizada, especialmente em um país onde o cristianismo predominante se coloca, muitas vezes, em oposição às práticas e crenças de outras religiões. Esse preconceito é alimentado pela ignorância, pela falta de conhecimento e pelo medo do desconhecido.
A Umbanda, assim como outras religiões de matriz africana, busca promover a paz, a justiça social e a cura espiritual, respeitando todas as manifestações de fé. No entanto, muitas vezes, seus praticantes são discriminados, perseguidos e até agredidos por manifestarem suas crenças, um cenário que contrasta com o que vemos nas passarelas do carnaval, onde essas mesmas crenças e culturas são representadas com grande celebração e adoração.
A Importância de Compreender a Cultura e a Religião Brasileira
O Brasil é um país plural, com uma imensa diversidade de culturas, religiões e crenças. Essa diversidade é o que torna o país tão único, e sua história está intrinsecamente ligada à convivência de diferentes tradições. No entanto, a intolerância religiosa ainda é um dos maiores problemas sociais enfrentados por muitas comunidades, especialmente os praticantes de religiões de matriz africana. E isso deve ser combatido de forma firme e intransigente.
É essencial que todos compreendam que, assim como o carnaval é uma celebração da diversidade cultural, as religiões de matriz africana, como a Umbanda, são também uma manifestação legítima da cultura brasileira. Não há espaço para discriminação ou intolerância em uma sociedade que se orgulha de sua diversidade e de sua herança.
Intolerância religiosa é crime, e a Constituição Brasileira garante a liberdade de culto. A Lei nº 9.459, de 1997, considera a intolerância religiosa como um crime passível de punição, e qualquer ato de discriminação religiosa deve ser severamente punido. Ao entender a Umbanda como parte fundamental da cultura do Brasil, é possível dar um passo para a erradicação do preconceito e para a construção de uma sociedade mais justa e respeitosa.
Leiatambém: Carnaval de 2025: Umbanda no Samba Religiosidade em Debate
Ao assistir aos desfiles de carnaval, é importante lembrar que, por trás da festa e da celebração, existe um profundo respeito às tradições religiosas de matriz africana, como a Umbanda, que têm uma contribuição fundamental na formação da identidade cultural do Brasil. O carnaval, mais do que uma festa popular, é um espelho das crenças e valores que formam a alma do povo brasileiro. E é dever de todos respeitar essas manifestações, compreendendo que intolerância religiosa não tem espaço em uma sociedade que se diz democrática, diversa e plural. O Brasil precisa se unir para combater o preconceito e garantir que todos possam celebrar sua fé sem medo, sem julgamento e sem discriminação.